segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma carta de amor

Carta de Amor
Passatempo Clube dos Poetas Vivos (para dia de S. Valentin 2011)


"Uma carta de amor que nunca lerás"

Meu amor,
maldito aquele dia de Verão, em que tive a notícia da tua morte.

De repente o Sol fez-se noite e o meu coração, de tão apertado que ficou, quase deixou de bater.

Desculpa só ter percebido nessa hora o quanto te amava e o tanto que a tua perda me faria sofrer ao longo de toda a minha vida.Ainda hoje e ao fim de tanto tempo, sinto que este amor só foi interrompido e talvez um dia, não sem bem onde, nos voltaremos a encontrar para retomar o que nos roubaram de viver.

Quantas vezes ao olhar-me no espelho, me sinto presa no teu abraço e imagino o teu rosto por trás do meu, sorrindo no horizonte do teu olhar. E é então aí, que percebo sempre que o único que não envelheceu foste tu. E tenho cada vez mais pena!

Recordo a nossa despedida no cais, em que a neblina descia do nosso olhar e tu, ternamente me soltaste os cabelos, para escondermos os beijos sôfregos que não queríamos que ninguém visse, porque os tempos eram outros e o pudor de mostrar o que sentíamos era muito. Como se alguém à nossa volta se importasse com isso, uma vez que a despedida para a guerra era de todos e não só de nós.

Abraçavam-te os teus pais, os teus irmãos e tu sem nunca me largares, ali bem junto ao teu peito ouvindo o soluçar do teu coração, que escondias no sorriso e na promessa de voltares, mesmo que não fosse inteiro. E é essa imagem que perdura nos meus olhos até hoje. A despedida que não queríamos que acontecesse.

Depois foram as cartas e os aerogramas onde jurávamos amor eterno, que a ti te davam força e a mim, me faziam crescer rápido por ser ainda tão nova.

Até que um dia a tragédia aconteceu e a notícia espalhou-se mais rápido que o vento. Ficaria para sempre o incumprimento da tua promessa de voltares ao meus braços. Voltaste sim meu amor, mas envolto numa bandeira sangrando de cor e onde o verde da esperança já tinha desaparecido.

Houve uma nova despedida e desta vez deixei partir contigo um pedaço de mim, que tornou o meu olhar mais triste.

Demorei tempo para me encontrar e já se gritava liberdade quando voltei de novo a amar, sem saber muito bem a quem amava. Acabava sempre por sentir que só interromperam o nosso amor e que poderia ser reatado no tempo em qualquer momento, mas a realidade era bem diferente.

Quis amar desenfreadamente e perdi amores, amaram-me perdidamente e perdidos ficaram, até que me encontrei quando os filhos que não tivemos cresceram e me fizeram mais estável.

Mas ainda hoje meu amor, quando penso em escrever uma carta de amor, é sempre para ti que escrevo, mesmo sabendo que jamais a lerás e não preciso prometer nada, porque o meu amor por ti será eterno.

MIA
9 Fevº 2011

1 comentário:

Fallen disse...

Adoro, adoro, adoro!!!