domingo, 30 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Depois de alguns avanços e recuos, Bia e Bernardo voltaram a encontrar-se.
Bia fez questão que o encontro não fosse naquele recanto onde tinham passado momentos inesquecíveis e por isso, escolheram um hotel discreto. Não queria ouvir de novo o música de fundo que tinham escolhido para o seu filme, queria uma cena diferente onde o ambiente não pudesse interferir com os sentimentos.
Entraram como um casal normal e apesar do conforto do quarto, sentiram alguma frieza no ambiente. Nada era familiar e mesmo entre eles havia qualquer coisa de diferente. Mesmo assim entregaram-se como se fosse a última vez e podia mesmo dizer-se que toda a magia a que estavam habituados se tinha transformado numa realidade que lhes dava mais consciência do que viviam.
Desta vez não havia risos de contentamento, mas a entrega era tão grande que sentiram que a profundidade daquele amor era muito maior do que jamais tinham esperado. E se ela já tinha revelado algum receio por isso, Bernardo, pela primeira vez confessou que tinha medo do que estava a acontecer. Ela tinha-se tornado numa obcessão para ele e ele não estava a conseguir gerir os sentimentos, acreditava até, que em casa já tinham reparado que alguma coisa de diferente se passava com ele.
Ouviram-se com muita atenção e as mãos, que até aí, eram de uma constante procura, mantinham-s agarradas de tal forma, que só a dor os fazia de vez em quando aliviar a pressão.
De quando em quando beijavam-se de novo, mas a doçura melosa dos beijos que costumavam trocar e os levava de novo a amar sem parar, desta vez revelavam alguma agressividade. Sabiam que tudo tinha de acabar e aquela que possívelmente seria a última vez deles, apesar de não ser violenta, revelava alguma raiva.
De comum acordo acharam por bem acabar o romance. Prometeram guardar o carinho que sentiam, toda a cumplicidade que tinham vivido e tal como não tinham procurado para se encontrar, teriam de arranjar a magia para se fazerem desaparecer da vida um do outro. Quem sabe noutra vidas se reencontrariam e em circunstancias diferentes, poderiam viver esse amor tranquilamente.
Prometeram serenidade na separação e que não voltariam a procurar-se, só não sabiam se iriam cumprir o establecido, mas mesmo assim continuaram a prometer.
À medida que Bia se arranjava, Bernardo que tinha deixado de fumar há alguns anos, pediu-lhe um cigarro e por entre espirais de fumo, olhava-a com melancolia. A tranquilidade aparente dela tornava-o inseguro e quanto mais a mirava, mais lhe apetecia ficar com ela. Não se conteve e mais uma vez tomou-a nos braços e amou-a de novo. Tudo parecia um recomeço, mas os corpos tranformados num só quando por fim se largaram, tiveram a certeza de que era a última vez. Não podiam continuar aquele romance que mais parecia de filme e o fim mais bonito que encontraram foi trautearem a sua música e dançar com leveza como de uma valsa se tratasse.
Por fim desceram, tomaram uma bebida no bar e na hora da despedida um último beijo de amor.
Não conseguiram deixar de se olhar pela última vez e acenaram eternizando o momento.
Desta vez, enquanto fazia a viajem de regresso a casa, Beatriz sentiu-se amputada. A realidade era demasiado dolorosa mas tinha de ser, a vida tinha de continuar e ela não podia pensar só nas suas dores.
Em casa continuavam à sua espera e todos dependiam da sua aparente tranquilidade. Tinha de entregar-se por completo à família e continuar de corpo inteiro centrada no problema de saúde da sua filha.

MIA
30 Novº2008
Enquanto é tempo
sai de ti e vive.
Enfrenta os riscos,
as dores, as tempestades
do teu pensamento,
mas sai!
Não fiques
mergulhada na escuridão
de horas
cheias de nada...
bate as asas
que julgas partidas
e levanta-as de novo
para saires de ti
e das tuas dores.
Tens-me aqui...
deixa-me entrar
na tua vida
e entender
os teus dramas,
desilusões,
sofrimento.
Não desvies o olhar
e enfrenta
a tempestade
em que se transformou
a tua vida...
mergulha em lágrimas,
vagas alterosas
de pranto,
mas sai!
Eu
continuarei aqui...
Cobrirte-ei
com as minhas asas
e ajudar-te-ei
a voar de novo.
Não feches
as portas à vida,
acorda
para a dura realidade,
mas sai!
Não desistas
de ti e da vida
que te espera lá fora...
Vigiarei
de perto o teu voo
rasante
e no teu
trémulo bico,
depositarei
o meu amor de Mãe.
Deixa-me
entrar em ti
e ajudar-te
a voar de novo.
A vida
está à tua espera...
dá-te a oportunidade
que mereces e
não percas mais tempo
a deambular
pelo desconhecido...
simplesmente vive!
Eu,
perto ou longe,
continuarei aqui.
Beijos

MIA
30 Novº2008

sábado, 29 de novembro de 2008

Posso esconder-me
atrás de grades,
portas blindadas,
muros altos de betão.
Posso até esconder-me
por trás de sorrisos,
palavras,
silêncios
e olhares vazios.
Posso cobrir-me
de mantos negros,
telas coloridas,
arco-íris risonhos.
Posso alar-me
das mais finas asas
e voar rumo ao infinito
pensando que ninguém vê.
Posso querer e não querer,
fugir e voltar
odiar ou amar.
Tudo que quiser
eu posso,
só não posso
fugir de mim.

MIA
29 Novº2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Hoje, David, o filho do meio, veio lanchar com Beatriz. Vivia com o pai e apesar de estarem sempre em contacto telefónico, viam-se raramente. Também estava preocupado com a saúde da irmã mais nova e depois de ter passado no hospital para a visitar, ficou com a Mãe.
Bia adorava estar com os três filhos juntos, mas sempre que havia oportunidade de ficar a sós com algum, aproveitava o momento para particularizar a conversa. David falava com entusiasmo do seu trabalho de arquitecto e da sua progressão na empresa, mas também do seu novo projecto pessoal de ir pela primeira vez viver sózinho. Para ela esta pretensão não era novidade e agora que ele estava prestes a concretizar esse sonho, ouviu-o com ternura. Era uma decisão arrojada, porque a actualidade da economia nacional não era famosa, mas algum dia teria de ser e ele não queria esperar mais tempo para o fazer.
E como de costume, sempre que estavam juntos, o tempo mágico que viviam passava a correr. Estavam já nas despedidas quando o celular de Bia tocou. Como estava distraída com a conversa, atendeu sem reparar quem chamava. Só quando ouviu a voz de Bernardo do outro lado é que caíu em si e de forma meia atrapalhada desculpou-se para não continuar a conversa. Sentiu um rubor nas faces e não conseguiu disfarçar o incómodo, a tal ponto que David perguntou-lhe se tinha acontecido alguma coisa.
Disfarçou como pode a resposta, mas ficou com o registo do ar apreensivo do filho. Não estava habituado a ver a mãe com ar de quem escondia qualquer coisa e por isso insistiu na pergunta de que se estava tudo bem.
Quando ficou só, Bia respirou fundo e mais uma vez percebeu que a continuar com aquela situação, qualquer dia iria deitar tudo a perder. No imediato ligou a Bernardo a explicar o que tinha acontecido e o porquê da chamada dele.
Com este problema de saúde da filha tinham deixado de ser prudentes e a continuarem assim, aquele segredo que era tão deles, iria acabar por ser descoberto. Ele justificou-se dizendo que queria saber do estado de saúde de Janine, mas não pode deixar de lhe dizer que tinha saudades dela e que queria reencontrá-la o mais cedo possível.
Beatriz sentiu-se reconfortada por saber que apesar da distância ele continuava a amá-la, mas pela primeira vez sentiu medo. Possívelmente era a primeira vez que tinha medo na vida dela. Nunca tinha sido dada a medos, mas agora era diferente. Estes momentos de stress que vivia tornavam-na mais vulnerável e sabia que não aguentaria perder o que quer que fosse. Por isso mesmo também não conseguia cortar defenitivamente com Bernardo. Tinha de pelo menos encontrar-se mais uma vez com ele, mas mais que nunca teria de ter muito cuidado.
Sózinha possívelmente não conseguiria tomar a decisão final, mas tinha esperança que ele entenderia e que iria ajudar também a pôr fim aquele segredo que viviam.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Hoje ia ser um dia difícil para Beatriz.
Desde manhã cedo que ela e a família se encaminharam para o IPO, pois Janine, a sua filha mais nova, ia ser operada. A espera de notícias era angustiante e o silêncio entre todos era revelador da preocupação que viviam.
Ao fim de algumas horas de espera chegaram as notícias que tanto esperava. O cirurgião apareceu a informar que tudo tinha corrido bem com a remoção do tumor e que felizmente a cirurgia não tinha sido demasiado invasiva. Agora havia que seguir o pós-operatório e acima de tudo preparar a menina para os tratamentos futuros, que esses sim, iriam causar não só danos psicológicos mas também físicos. Mas Janine era muito nova e com o apoio de todos, haveria de resistir e sair vitoriosa.
Bia sabia que teria de ser muito forte também, para que a filha pudesse sentir que toda a estrutura de apoio à sua volta seria inabalável. Iriam manter-se ainda mais unidos para lhes puderem dar todo a afecto e conforto que ela ia precisar. A resposta para o sucesso estaria no futuro e oxalá tudo corresse pelo melhor. Essa era a esperança que lhe dava força e Deus e a medicina iriam ajudar a superar estes momentos.
Quando se dirigiu à sala de recobro para a visitar fez questão de sorrir e apesar do olhar embaciado, o brilho da esperança estaria lá. Janine ainda sonolenta abriu os olhos e leu na expressão da Mãe que tudo tinha corrido bem. Não fez perguntas , deixou-se dormir de novo e o no seu ar ainda de menina, podia ler-se que o carinho materno era o melhor sedativo.
Bia não podia prolongar por mais tempo a permanência naquela sala e saíu para informar o resto da família. Tinha de mostrar-se serena pois sabia que a tranquilidade dos outros passava pela sua postura.
Pediu à filha mais velha que se mantivesse no Hospital, pois tinha de passar no escritório com urgência e saíu acompanhada pelo companheiro que mais uma vez se revelava atento e carinhoso. Era uma enorme ajuda tê-lo por perto. Ele adorava os seus filhos e Janine encontrava também nele um apoio que não tinha do próprio progenitor. Para Beatriz isso era um factor de tranquilidade.
Despediu-se de Niarchos e já em direcção ao escritório recebeu um telefonema de Bernardo. Encostou o carro para poder falar melhor e explicou a situação. Bernardo também se mostrava preocupado por ela e apesar de todas as condicionantes que viviam, tentava informar-se sempre que podia.
Bia agradeceu-lhe o interesse e mandou-lhe um beijo. Estava demasiado absorvida com outras preocupações para alongar a conversa. De qualquer forma há medida que retomava a condução, não conseguia apagar da memória aquele romance. Sentia-se até mal por isso, mas o pensamento tem destas coisas...muitas das vezes divaga em sentidos menos apropriados. Continuava com a certeza de que tudo tinha de ter um fim, mas também sentia que não era capaz de o fazer neste momento, continuava a precisar de o ouvir e de saber que ele continuava a amá-la.

MIA
25 Novº2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


vidas deixadas
sem viver,
dores imensuráveis
sem contar,
perdas irreparáveis
sem sentir.

amnésias que lembram,
descrenças que acreditam,
aceitações que recusam.

escuridão que ilumina,
silêncio que ensurdece,
calor que enregela.

luto sem morte,
lágrimas sem choro,
vida sem criação.

mentiras verdadeiras,
verdades omitidas,
lembranças esquecidas.
Há...
E tudo o mais
que possa haver,
só se perde
se se tiver.

MIA
23 Novº2008

sábado, 22 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Depois de ter tomado conhecimento da doença da filha de Beatriz, Bernardo quis encontrar-se com ela.
Desta vez Bia não ia com o mesmo entusiasmo para o seu encontro secreto. Estava depressiva e demasiado preocupada e apesar de ter concordado, não sabia se era o que mais lhe apetecia fazer naquela hora. Mesmo assim foi.
Quando chegou ele já a esperava. Ajudou-a a sair do carro e com ternura abraçou-a. Ela deixou-se conduzir e quase sem palavras pousou as suas coisas e de mãos dadas sentaram-se no sofã olhando-se em silêncio. Por momentos Bernardo respeitou aquele silêncio mas quis saber pormenores e pela primeira vez Bia falou-lhe da família e de toda a dor que estava a viver.
Mostrou como também era frágil e o sorriso a que ele estava habituado e que o tinha prendido, tranformou-se em lágrimas que ele carinhosamente enxugava. Tentava serena-la falando de esperança mas mesmo assim Beatriz chorava. No meio de soluços tentava explicar o turbilhão de sentimentos e o medo que começava a sentir se continuasse a viver aquele amor.
Nada já fazia sentido e todo o medo que sentia em ser descoberta, levava-a a pedir-lhe que a ajudasse a pôr fim aquela situação. Ela não teria capacidade de enfrentar qualquer perda provocada por aquela vida paralela.
Bernardo entendia o drama que ela estava a viver e também não sabia que dizer. De repente tudo tinha mudado e todo o estado de euforia que costumavam viver tranformou-se em tristeza.
Desta vez não fizeram amor e perceberam que afinal neles nem tudo era físico e que o amor deles também ia muito além do prazer e dos momentos. De qualquer forma nada podia ser alterado porque para lá daquela porta outro mundo os esperava e outras pessoas dependiam também deles.
Bernardo deu-lhe todo o conforto e disse que não era a melhor altura para tomarem decisões, até porque queria continuar mesmo longe, ao lado dela. Iria manter-se em contacto sempre que possível para saber como iam as coisas e depois ver-se-ia o que iria acontecer.
Bia não prometeu nada e quis regressar a casa. O pensamento da filha não a largava e era nisso que tinha de estar concentrada.
Na despedida os beijos souberam a sal e nem o brilho do sol lhe deu luz, mas tinha de regressar.
Já ao volante acenou-lhe e por momentos encontrou espelhada nos olhos dele, uma tristeza que desconhecia.

MIA
23 Novº2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Conforme tinha agendado, Beatriz deslocou-se uma semana a Paris.
Era uma semana particularmente díficil profissionalmente, mas sobretudo porque tinha partido intranquila com a saúde da sua filha mais nova. Tinha-lhe sido detectado um nódulo no seio esquerdo, feito uma biópsia e ainda não sabia dos resultados.
Estava preocupadíssima e todo o optimismo que costumava ter em relação às mais variadas dificuldades, desta vez não existia. Sentia que algo de mau estava para acontecer. Nas poucas horas de lazer, refugiava-se no quarto do hotel e ficava prisioneira de maus pensamentos.
Desta vez não era com ela e sempre que a saúde dos filhos estava em causa não conseguia esconder a intranquilidade. Telefonava diàriamente à hora do jantar e naquela quarta-feira achava que ia ter a resposta que esperava.
Recusou ir com o grupo do costume jantar e como havia uma hora de diferença, esperou impacientemente para ligar para casa. Pelo tom de voz com que atenderam o telefone, percebeu de imediato que as notícias não eram boas. A filha em pranto deu-lhe a notícia que mais temia, tinha um carcinoma e era preciso agir rápidamente.
Queria acalma-la mas as palavras não saíam e àquela distância nem a mão lhe podia dar ou mesmo ajudar a secar as lágrimas. Sentiu o Mundo ruir...falou também com a filha mais velha a pedir ajuda e que ficassem o mais unidas possível até ao seu regresso. Iria antecipar a viagem e sexta à noite já estaria de novo em casa.
Quando desligou o telefone estava gelada e incapaz de pensar em mais nada, a não ser no regresso e nas medidas urgentes a tomar. Sentiu-se infinitamente só...
Telefonou ao companheiro que tinha aproveitado a ausencia profissional dela para ir à Grécia, visitar uma irmã que estava com problemas de saúde e como já estava habituada, sentiu todo o carinho e apoio dele. Também iria tentar alterar o percurso do voo de regresso e se possível ir ter com ela a Paris e regressarem depois juntos no mesmo avião para o Porto.
Já não quis sair para jantar, pediu que lhe servissem um chá no quarto e refugiou-se no silêncio questionando tudo que estava para trás.
Também se lembrou de Bernardo, mas estranhamente não sentiu a emoção do costume. Afinal nunca poderia contar com ele para partilhar fosse o que fosse da sua vida, a não ser momentos a dois. As outras horas, boas ou más, nunca poderiam ser divididas.
Questionou tudo. Aquele amor estranho que viviam não era senão um acto de egoísmo dos dois e por mais afinidades que pudessem ter, a partilha do resto das suas vidas não existia nem nunca poderia existir.
Naquela hora decidiu que tudo tinha de acabar entre eles. Era uma parte obscura que ele ocupava nela e que apesar de ser muito bom, tinha de ter um fim.
Mais que nunca tinha de se concentrar na família e na saúde da filha e isso era a prioridade do momento.
De qualquer forma ia tentar telefonar-lhe para explicar toda a situação e informa-lo das suas decisões. Começava a não ter sentido aquele ligação secreta e todos os riscos que corriam se fossem descobertos teriam um preço demasiado alto.
Como protecção tomou um ansíolitico, deitou-se e deixou que as lágrimas caíssem. O dia seguinte seria árduo e tinha de tentar descansar.

MIA
21 Novº2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

É no silêncio
gritante
que há em mim
que me revejo
e no sorriso
permanente
que disfarça
a timidez
do olhar
que me escondo.
É no meio
do nevoeiro
que me mostro
para que ninguém
veja como sou
e no meio da
multidão
que vivo
para não ser notada.
Mas mesmo
no silêncio me ouvem,
no nevoeiro me vêm
e na multidão
me descobrem...
e eu só queria
timidamente
sorrir.

MIA
18 Novº2008
Porque ardem
meus olhos
quando vejo
mais além?
Porque sufoca
meu peito
de sentimentos
tão confusos?
Porque quero
e não quero
este movimento
louco de pensamentos
profundos?
Porque encontro
quando não procuro
e quando quero
não tenho?
Porquê???
e porque ficam
os porquês
sem resposta,
as dúvidas
sem certezas
e os ecos
das partidas
sem chegada
a lugar nenhum?
Porquê
o EU
sempre sem
MIM?

MIA
18 Novº 2008
Quis dar-te o Mundo
e o que nele contém,
mas não consegui,
dei-te o que fui capaz.
Amor,
carinho,
risos,
valores,
emoções,
lágrimas até...
Olho para trás
e poderia ter dado
tudo em dobro
e melhor...
mas mais uma vez
não fui capaz.
Das dúvidas que tive,
das angustias que senti,
não fui capaz de sair
para te poder dar
o mais que merecias.
Hoje
continuo a querer
dar-te o Mundo
e já não sei se posso,
mas em dobro
continuo a dar
amor,
carinho,
risos,
valores,
emoções
e lágrimas também.
A certeza
que tenho meu amor
é que o melhor que te pude dar
foi VIDA.

MIA
18 Novº2008

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Se

Se ao menos
por um dia
pudesse respirar
o ar que tu respiras...
Se ao menos
por uma hora
pudesse estar
nos teus braços...
Se por um instante
pudesse fazer
parte de ti...
Como a luz
teria mais brilho,
o sol
seria mais quente
e o Mundo
muito melhor.
O rio
correria mais lento,
as folhas
não caíriam de mortas
e tudo seria
diferente.
Se ao menos
por um segundo
eu pudesse voar,
meu amor,
elevaria as minhas asas
e pousaria
no teu peito.
Mas
se tudo o que quero
se resumisse
a ti,
que vazia seria
a minha existência.

MIA
17 Novº2008

domingo, 16 de novembro de 2008

se pudesse por um dia

Hoje
não quero voar,
falar ou até
respirar.
Quero
a quietude
dos momentos,
o silencio
das reflexões,
a sombra
das dúvidas...
Não me importo
do sol,
do frio
ou mesmo
d'ir ver o mar...
Hoje
quero hibernar
do que me rodeia.
Se pudesse,
morreria
por um dia,
uma hora,
um momento...
Se quisesse
renasceria
para ter paz...
Mas hoje
simplesmente
não quero
sair de mim.

MIA
16 Novº2008

sábado, 15 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Beatriz apesar de filha de pais continentais, tinha nascido nos Açores. O pai foi militar de carreira e parte da sua vida militar fora feita em S.Miguel.
Bia nasceu e cresceu em Ponta Delgada e só quando foi para a faculdade é que abandonou a ilha. Anos mais tarde, já casada pela segunda vez e com três filhos, havia de voltar ao sítio onde tinha sida tão feliz. Sempre tinha falado aos filhos do carinho que tinha por aquela terra e numa oportunidade profissional para exercer durante seis anos, decidiu avançar com o projecto.
Reencontrou velhas amizades e a família adorou a estadia por lá. Ao fim daqueles seis anos e quando regressou de novo ao Porto, prometeu a ela mesmo que S.Miguel seria sempre o seu refúgio. Tinha nela a nostalgia e o mistério das Ilhas de Bruma e era ali que se reencontrava.
Tempos depois e já divorciada pela segunda vez, voltava com frequencia para carregar baterias. Numa dessas pequenas férias encontrou o seu actual companheiro, um grego, que acabaria por deixar tudo por ela. Mais velho, mais tranquilo, com uma vivência riquíssima, viria a dar-lhe a tranquilidade afectiva que elaprecisava.
Mas nada na vida é definitivo e a paixão secreta que vivia agora com Bernardo, vinha de novo
criar-lhe uma instabilidade emocional que ela julgava morta, mas que afinal só estava adormecida.
Com Bernardo nada era tranquilo...talvez fosse isso que os prendia além do amor.
Eles eram a parte da outra metade que nunca tinham encontrado.

MIA
15 Novº2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Para continuar a escrever a sua história e como já estava a ficar longa, achou por bem dar nome às personagens.
Na vida real ela e a sua paixão tinham as mesmas iniciais no nome. Até nisso estranhamente coincidiam.
No romance iria manter o príncipio e decidiu chamar-se de Beatriz e a ele de Bernardo, mas como adorava nick names, ficaria simplesmente Bia...
Tinha passado um mês sobre o acidente de Bernardo e ainda não tinham voltado a encontrar-se fisicamente.
Logo que ele foi capaz de conduzir de novo marcaram um encontro no sítio do costume. Desta vez ela queria ser a primeira a chegar. Como não tinha voltado a vê-lo desde a visita no hospital, queria estar atenta a alguma dificuldade física que ele ainda pudesse ter.
Estava uma manhã gélida mas belíssima. Saíu do carro, protegeu-se do frio e foi caminhando por baixo dos castanheiros ainda carregados, pontapeando algumas castanhas caídas. Desde a infância que não tinha perdido aquele hábito...
Por fim avistou um carro desconhecido, mas imaginou logo que fosse ele e não se enganou. Foi ao
seu encontro, abriu-lhe a porta e ajudou-o a sair ainda apoiado nas canadianas. De forma protectora apertou-lhe o blusão, beijou-o com ternura e foram entrando.
No meio de muitas perguntas quase sem resposta continuavam a sentir uma enorme atracção que os fazia viver aquele amor. Desta vez a iniciativa passava por ela e à medida que o ajudava a despir-se ia descobrindo as cicatrizes que o marcavam. Mesmo com algumas limitações físicas amaram-se com a mesma entrega e alegria de sempre e até algumas dificuldades os fazia rir muito. E isso era das coisas também que os prendia, encontrar humor mesmo nos momentos mais difíceis.
Hoje, talvez pelas limitaçoes dele, a imaginação não voou tão alto e ficaram mais quietos. Não deram grandes passeios junto ao rio, mas conversaram muito mais e não fossem as marcas, nada diria que a ausência forçada tinha sido tão gande.
Ele continuava a dizer-lhe o quanto precisava dela para viver e que aquele momento de loucura no hospital tinha sido do outro mundo... afinal não era por acaso que aquela atracção se mantinha tão forte.
Mas as horas voavam e antes da despedida ela disse-lhe que iria uns dias a Paris em trabalho, mas que sempre que possível daria notícias nem que fosse com sinais de fumo. Mesmo continuando a nada prometerem ou obrigar-se, tinham percebido que tanto silêncio poderia ainda ser mais comprometedor...
Um longo beijo de despedida, desejos de boa viagem e um até logo para encurtar a distância. Desta vez e mesmo sem terem combinado, ambos olharam para trás para se verem mais uma vez...começavam a ter consciência da realidade que viviam e de possíveis perdas.

MIA
14Novº2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Hoje acordou adoentada. Estava com febre e aquela maldita constipação teimava em continuar.
Levantou a persiana e apesar do sol lá fora sentiu um arrepio de frio. Ligou a televisão, viu as notícias e a metereologia previa temperaturas baixíssimas. Afinal tinha feito bem ficar em casa, pois com aquele tempo, de certeza que agravaria o seu estado.
Esperou pelas nove horas e telefonou à secretária para desmarcar toda a agenda daquele dia. Preparou um pequeno almoço frugal mas bem quente e voltou a deitar-se. O corpo pedia-lhe calor e descanso.
Era raríssimo estar doente e quando acontecia ficava sempre muito vulnerável. Precisava de mais atenção, mais carinho, mais tudo, só que os outros nem sempre estavam disponíveis para isso e então ela sentia-se a pessoa mais só do mundo e ficava triste.
Por instantes mergulhou em pensamentos e deixou-se dormir de novo. Quando acordou já a manhã ia alta e apesar do íncomodo continuar decidiu levantar-se. Não queria permanecer no quarto e transferiu-se de armas e bagagens para a sala, afinal não estaria tão confortável no sofá, mas assim não se sentia prisioneira. Odiava sentir-se enjaulada, ainda por cima por obrigação.
Levou os telefones atrás dela e sempre que os olhava dava-lhe uma vontade enorme de se pôr a falar com toda a gente...aquela solidão contrariada tornava-a mentalmente irrequieta.
Os filhos foram telefonando para ver como estava, o seu amor também, mas...aquela voz que naquele momento gostaria também de ouvir estava ausente e nem sequer sabia onde.
Conscientemente pôs-se a questionar toda a sua vida.
Era filha única de Pais muito queridos e que a saudade não esquecia, tinha tido uma infância e juventude em liberdade e felizes, sido boa aluna, boa atleta, uma capacidade pouco comum para fazer novos conhecimentos, enfim, não encontrava traumas para trás que pudesse questionar.
Tinha uma dúvida ou certeza até, para o facto de ter sido filha única. Apesar de gostar de momentos de solidão, sempre teve necessidade de criar cenários onde os outros se sentissem bem sem disputas, discussões, guerras desnecessárias...e aí tornou-se lider das brincadeiras, das ideias e até da inconsciência das coisas mais graves. Nada para ela tinha a mesma gravidade que para os outros e sempre dava a volta por cima e com finais felizes. Quando para os outros havia escuridão ela encontrava sempre estrelas a brilhar.
Já tantos anos tinham passado e continuava sempre com a mesma luz dentro dela.
Sempre sentiu que era ligeiramente diferente dos outros, pelo menos em pensamento. E realmente era diferente, tanto para o bem como para o mal.
Mais teórica que prática, um poder de análise fora de comum, um humor a raiar o desconserto, um poder de comunicação enorme, uma sensibilidade controlada mas à flor da pele e como dizia um querido amigo, um iman especial que atraía desmesuradamente quem privava com ela.
Entregava-se a tudo que se propunha de corpo inteiro. Intensa em tudo que fazia e sentia.
Essa intensidade pelas coisas tinham-na levado a encontros e desencontros mais ou menos felizes. Algumas paixões inconsequentes, dois casamentos falhados, três filhos lindos, uma profissão que adorava, mas continuava sempre a sentir falta de alguma coisa e essa procura que não buscava continuava no tempo.
O que buscava afinal? continuava sem resposta para isto.
O segredo da paixão que vivia nesta altura era fruto dessa procura sem fim. Certamente só na morte encontraria resposta.
Racionalmente achava que devia por fim a esta situação, mas por outro lado, sentia que o risco que corria a fazia viver mais e melhor. Não queria pensar nas consequências para não se magoar,
mas tinha a certeza que magoaria muito mais gente se tudo fosse descoberto.
Até podia ser que estes momentos forçados de reflexão a fizessem pôr um ponto final a tudo.
Mais uma vez faria um corte na sua vida, mas como sempre o motivo tinha uma justificação.
Teria de abdicar da exaltação dos momentos, de viver a vida em constante adrenalina e serenamente ficar com ela e com os dela. Só ainda não sabia se seria capaz de o fazer sózinha...

MIA
11 Novº2008

sábado, 8 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Naquela tarde de domingo chuvoso, ouvia Brel e lia um romance de Louis Bériot ("Un coup de foudre éternel").
Estava a adorar aquele livro não só pelo conteúdo, mas pelo amor com que estava escrito. Baseava-se na própria história de amor do autor com a sua mulher de sempre e quando retomava a leitura não podia deixar de pensar no seu caso secreto.
Aí começava a divagar e a questionar aquela relação que mantinha há já algum tempo. Afinal tinha sido também um coup de foudre, mas eterno certamente que não seria. Ambos tinham relações estáveis e nem sequer lhes passava pela cabeça mudar fosse o que fosse da vida deles para viver aquele amor.
Desde a primeira hora em que o conheceu sentiu um click estranho, mas não valorizou. Só que o interesse dele também se manifestou e isso foi o primeiro passo de tudo. Vários interesses em comum e o prazer da conversa, sobretudo de temas que só pessoas livres delas mesmo, eram capazes de ter sem criar conflitos com o outro. Isso foi realmente o começo, o resto veio por acréscimo...a compreensão, o carinho, o desejo, um desencadear de sentimentos que se tornaram incontroláveis.
Costumava pensar que numa relação dita normal aquele amor possívelmente não sobreviveria.
Haveriam ciúmes, sentido de posse, obrigação...realmente o sucesso deste amor era a liberdade com que amavam.
Às vezes era-lhe difícil dividir-se, principalmente o corpo, mas também achava que havia um benefício em tudo isto. Tinha encontrado uma certa harmonia na gestão da sua vida afectiva.
Dum lado a estabilidade, a rotina e também amor, porque não. Do outro lado, a exaltação dos momentos e ela continuava a precisar disso para viver.

MIA
8Novº2008

O meu amo, tem um jeito...

Depois dos acontecimentos do dia anterior, começou a perceber que não era nada fácil gerir aquela situação. Até ali tinha sido tudo mais ou menos pacífico, mas agora não conseguia contrariar a vontade de o ver mesmo no hospital e de saber constantemente do seu estado de saúde.
Tinha de ser muito cautelosa para o segredo se manter, mas a imaginação era mais forte que ela e começou a criar vários cenários para a possibilidade de o visitar sem serem descobertos.
Telefonou à sua amiga enfermeira e combinou um encontro no hospital. Sem grandes pormenores, explicou que queria ver o acidentado do dia anterior e se ela podia ajudar. A amiga foi discreta nos porquês e ajudou. Arranjou-lhe uma farda de auxiliar e cuidadosamente levou-a até à enfermaria onde ele estava. Era o melhor disfarce, pois a encontrar alguém à cabeceira, não fariam grandes perguntas sobre a saúde do doente e assim não poderia comprometer-se.
Teve sorte na hora escolhida, pois estava tudo tranquilo e as visitas ainda não tinham começado a chegar. Era uma sala de acidentados e os pacientes estavam na maioria sedados por causa das dores e dormitavam. Ele também. Aproveitou aquele cenário e aproximou-se da cama. Primeiro hesitou para controlar a emoção, mas lentamente não resistiu a acariciar-lhe a mão onde um cateter lhe fazia entrar o soro...ao sentir o carinho ele abriu os olhos e a interrogação tornou-se espanto. Disfarçadamente ela inclinou-se e beijou-o na boca para ele não poder dizer nada nem quebrar a magia do momento. Foi tudo muito rápido. Arranjou-lhe a roupa para poder ainda tocá-lo, apertou-lhe a mão e rápidamente saíu não resistindo a olhar para trás...ele ainda mantinha o ar de espanto pela ousadia dela e isso divertiu-a.
Tinha sido o momento certo para sair, começava a chegar gente e era perigoso continuar ali.
Cruzou-se na porta com uma senhora e teve a certeza que era familiar dele mas não quis olhar nem para a cara ou mesmo cor de cabelo. Quis continuar sem saber de nada, mas mesmo assim ficou-lhe na retina a forma física e onde quer que voltassem a cruzar-se iria reconhece-la...isso incomodou-a mas afastou o pensamento. Tinha de deixar aquele cenário imediatamente.
Passou pelo gabinete da amiga e mais uma vez sem grandes explicações despiu a farda, agradeceu muito o favor e solidàriamente femininas abraçaram-se.
Respirou fundo e em passos rápidos abandonou o edíficio a caminho do carro. Só agora tomava consciência dos riscos e da ousadia vividas. Mas ela era mesmo assim, ousada e muitas vezes inconsciente em tudo o que fazia na sua vida.
Meteu-se no carro e à medida que conduzia o seu pensamento planava. Amava aquele homem
duma forma diferente e isso fazia-a correr todos os riscos possíveis e imaginários. Sentir o amor dele era também um bálsamo para o dia a dia e saber que tudo estava a correr bem tranquilizava-a.
Agora nada mais restava que continuar a esperar que tudo normalizasse e sobretudo que ele ficasse bem.
Até lá e como até aqui, tudo seria igual, só com uma diferença. Podem controlar-se os sentimentos, as emoções...mas não a vida.

MIA
8 Novº2008

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O meu amor tem um jeito...

Hoje, como de costume, iam voltar a encontrar-se.
Já tinham tudo acertado desde o dia anterior e ela bem cedo, meteu-se no carro e partiu. Sempre que o fazia, parecia sentir a emoção da primeira vez.
Achava sempre o percurso interminável, mas por fim chegou à hora combinada.
Estranhamente, ele que era sempre o primeiro a chegar, ainda não estava lá. Uma chuva miudinha não deixava que saísse do carro para fumar, mas foi-se entretendo a ler o jornal e a ouvir música.
Entretanto o tempo passava e ele continuava sem aparecer. Primeiro pensou que talvez a demora fosse provocada pelo trânsito e pela chuva, afinal era sexta-feira e o movimento era sempre maior. Depois e como já tinham passado quase duas horas, decidiu ligar para o tlm, que como tinham acordado, só seria usado em último caso, mas mesmo isso não adiantou, porque apesar de chamar ele não atendia.
Começou a ficar preocupada e a pensar que algo de grave se tinha passado, isto nunca tinha acontecido e era muito estranho.
Apesar de não entrar em pânico com facilidade, uma estranha sensação apoderou-se dela e teve a certeza de que algo grave tinha acontecido.
Mesmo debaixo de chuva saíu do carro e fumando um cigarro tentou acalmar e aclarar as ideias.
Continuar ali não adiantava e decidiu regressar a casa. Pela rádio ia ouvindo as notícias sobre o transito e que já tinham acontecido vários acidentes...cada vez mais se avolumava a ideia de que algo grave tinha acontecido e que ele nem sequer teria condições de dar notícias.
Quando entrou em casa, a primeira coisa que fez foi ligar a televisão e esperar pelos noticiários para tentar saber de acidentes graves que poderiam ter acontecido logo de manhã.
Toda a gente em casa percebeu a sua intranquilidade pois, por mais que tentasse disfarçar, não conseguia ficar quieta. Fazia zapping constantemente à procura de diversos canais com notícias, mas nada de esclarecedor.
Já tarde foi deitar-se mas não conseguiu dormir quase nada. Queria que o amanhã chegasse rápidamente para poder consultar os jornais e ver se encontrava resposta para este silêncio terrível.
Levantou-se muito cedo e desculpou-se com o tempo de chuva e o transito para sair de casa mais cedo.
Parou na primeira área de serviço que encontrou, comprou o diário e logo na primeira página uma série de acidentes. Passou rápidamente para as folhas interiores e meu Deus, lá estava a resposta para tudo...um carro abalroado por um camião e o nome dele. Ainda pediu que fosse mentira, mas não, era verdade...o nome, a idade, tudo. Mas apesar do acidente ter sido grave, não havia risco de vida...
Tomou nota do hospital para onde tinha sido levado e apesar do azar, a sorte de ter uma amiga enfermeira lá a trabalhar. Ligou-lhe de imediato a pedir informações e esperou pela resposta que não se fez esperar. Felizmente, apesar do aparato, o seu estado não era grave, mas como tinha sido sujeito a uma cirurgia ainda estava combalido.
De volta para o emprego pensava na melhor forma de o poder ouvir ou contactar, já que visitá-lo era impossível e não tinha outra coisa a fazer se não esperar.
A manhã foi de reuniões mas a sua cabeça não conseguia concentrar-se em nada. Há hora de almoço continuava sem saber o que fazer. Continuar a esperar que era a única coisa que podia fazer.
A própria secretária notava-lhe um nervosismo estranho e o pedido de cafés sucediam-se...até que o telemóvel tocou de novo. Finalmente era ele a dar notícias. Respirou fundo quando ouviu a sua voz e ficou silenciosa a ouvi-lo... a adrenalina começou a baixar e as lágrimas cairam por perceber que nem sequer um beijo lhe poderia ir dar.
Mas era um dos riscos daquele segredo, mante-lo mesmo nas situações mais difíceis.
Perguntou-lhe como estava e ele respondeu que a amava e que os seus pensamentos naquele momento difícil tinham sido para eles. Ela mandou-lhe um beijo com asas, reafirmou o seu amor e que continuaria à sua espera...

domingo, 2 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Hoje, não sabia porquê, sentia um amor ainda maior por ele.
Há já algum tempo que não se viam e carregava no acelarador para chegar mais depressa. Estava inquieta por poder beijá-lo e fundir-se nos seus braços.
Ainda faltavam cinco quilómetros e pareciam uma eternidade. Fumou mais três cigarros e finalmente chegou.
Ele já lá estava, nunca se atrasava. Quase não a deixava sair do carro e puxou-a com força para ele beijando-a com paixão.
Depois olharam-se bem nos olhos e adivinharam os pensamentos.
Agarrados entraram no "sítio" e quase sem palavras começaram o jogo do amor.
Como se gostavam...à medida que os corpos se destapavam descobriam sempre algo de novo e faziam-no com alegria. Ele gostava do toque de seda da sua pele e ela toda enriçada, deixava-se percorrer, provocando nele um desejo ainda maior. Os primeiros momentos eram de sofreguidão e muito intensos até atingirem o extase. Até nisso estavam em sintonia.
Depois ficavam mais calmos e falavam de tudo e de nada. Imaginavam passeios à beira rio vendo os barcos passar e contagiavam-se de risos e cansaços. Regressavam e voltavam a amar-se como só eles sabiam fazer...amavam-se, deixando-se amar.
Mas a realidade não se compadecia e o tempo voava. Na hora da despedida, a mesma paixão da chegada e um até amanhã que não seria.
Depois partiam tranquilamente sabendo que se tinham e que se continuavam a querer. Era o amor...

MIA
1 Novº 2008

"O meu amor, tem um jeito manso que é só seu..."

Não sabiam o que procuravam, mas encontraram-se.
Apaixonaram-se e no meio dum segredo, que era só deles, começaram a viver a paixão.
Eram muito intensos em tudo que faziam.
Ele, apesar de irrequieto, não gostava de caminhar, mas quando ela o levava a isso, o passeio transformava-se em prazer e esqueciam-se do Mundo. Paravam para se olhar, tocar e beijar, beijar muito...pareciam adolescentes.
Decidiram sem promessas, que sempre que um quisesse, o outro estaria lá. Não poderiam ser todos os dias, todas as semanas ou até todos os meses, mas sem dramas concordavam. Queriam amar-se mesmo assim. A idade dava-lhes a sabedoria do que fazer com o amor.
Achavam que o lhes acontecia só poderia ser coisa de filme. Então, arranjaram um tema para banda sonora, deram-lhe um título e o argumento seria a vivência deles, ao longo dum tempo sem tempo marcado.
Ela, mesmo sem saber, adorava dançar. Ele, também não sabia, mas fazia-lhe a vontade e ao som da banda sonora que faziam tocar, rodopiavam com ternura e acabavam a amar-se como se fosse a última vez.
Tiravam prazer em tudo que faziam e diziam. Na brincadeira, ela até já dizia que não queria mais ser cremada, porque assim, onde quer que voltassem a encontrar-se, os seus corpos continuariam a juntar-se. E ele chamava-lhe louca e beijava-a e ela ria da loucura das palavras.
Outras vezes ficavam em silêncio de mãos entrelaçadas e não precisavam de dizer nada para saber que se gostavam. Tinham decidido que era assim que queriam viver o seu amor e sem dramas nem promessas, viviam-no. A única coisa que pediam, era que fosse com verdade.
Sempre que se separavam, sabiam que haveria outra vez e tranquilamente partiam sem olhar para trás.
Não havia razão que os fizesse desistir e a emoção dava-lhes força e vontade de continuar sempre e mais.
Nas ausências, comunicavam através do cosmos e independentemente de tudo, sabiam que fariam sempre parte um do outro.
O segredo deles era o alimento para a paixão.

MIA
30 Outº2008