sábado, 31 de dezembro de 2011

Porque sei

Se te dissessem
meu amor
que ao passar
se encheriam de pranto
os rios onde me vejo
é porque nem todas as águas
correm para o mar
e as que me afogam
são as vagas que me vestem

Se te dissessem
meu amor
que a tristeza me veste
e o ruído onde habito
é a maior solidão
abririas vezes sem conta
os teus abraços
para me perguntar
porque ainda respiro AMOR

E se te dissessem
meu amor
que o sol muitas vezes
não passa na minha rua
sei que voarias pelo equador
em busca do raio mais quente
e da luz mais brilhante
ancorados num cristal
e me levarias de novo a ver o mar

MIA
31 Dezº. 2011

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Quando já eras meu

Quando tu já eras meu
e eu ainda não sabia
que amar para além de tudo
era o que mais queria
arrastava os pés no teu caminho
mas não te via
ainda que o teu perfume
se cruzasse com o meu
pelas ruas onde o vento
soprava rajadas
dum amor há muito guardado

E quando o relógio parou
para que os sinos batessem
anunciando quem éramos
todas as horas começaram
a vestir-se de magia
e as borboletas voaram
como se a Primavera
tivesse de novo voltado
com as andorinhas
passeando de mãos dadas.

MIA
28 Dezº. 2011

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

E isto é Natal?

Hoje, 26 de Dezembro
continuam os duendes
os latões e os dejectos
e os barracões sem tecto
a encontrar-se no caminho
dos sem paços nem castelos

Só o Sol os aquece
e quando acaba o dia
abrem-se as noites mais frias
sem portas nem janelas
nem cortinas tingidas de lama
esvoaçando de ventania

São os dias perdidos
de Natal deserto
onde os encontros se fazem
de ruas sem palmeiras
e cartões espalhados
de oásis à espera de nada.

MIA
26 Dezº. 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

Azul celeste

Quando a luz se apaga
acende-se o fogo
que queima o destino
embrulhado de cetim

Ficam as cinzas
manchadas de pecado
que uma corrente de ar
levará para lá da janela
aberta de imaginação
tornando as noites frias
em dias quentes de Verão

O amanhecer
vestir-se-á de azul celeste

MIA
17 Dezº. 2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

E se assim fosse, haveria sempre Natal

Meu amor, se soubesse
que o meu mundo ia acabar
dáva-te o sol e o luar
e os campos de trigo
que estão por semear

Dos sorrisos sem esmalte
cresceriam papoilas
e por trás das pestanas
abrir-se-iam janelas
por onde as andorinhas
pudessem entrar

Seriam cravos ou rosas
flores de todas as cores
a crescer no arco íris
onde o preto nunca se vê.

MIA
14 Dezº. 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Horas mortas nas cores do arco-íris

Todas as horas mortas
são minhas
quando a tua ausência
bate para lá da porta

Já nada me dói
a não ser o teu amor
que me queima o corpo
muito antes do sol nascer
e os teus dedos gelados
acordam o meu peito
como se não houvesse amanhã

Não sei se vestirei
as cores do arco-íris
mas quando a noite chegar
voltarei a morrer nos teus abraços
e tu, no amor que me sufoca.

MIA
9 Dezº.2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Campos de silêncio e morte

Visitei campos de morte
onde só as flores suspiram
ao cair por terra
parecendo desgosto

São campos de silêncio
trémulos de luz e saudade
dum amor inacabado
de sonhos para nunca mais

E ao lado da foto
da criança que não foi
ouvi o choro duma Mãe
de olhos vestidos de negro.

MIA
23 Novº. 2011

Para lá do arco-íris

Lê-me os silêncios
na transparência dum olhar ausente
de quem ama o longe
e se perde de desejo por um amor
que de tão perto
sufoca a aragem dos dias frios de Outono

Lava-me das gotas de chuva
que o meu corpo encharca de temporais
quando a alma de despe e transparece
da cor púrpura da paixão
com sabor a rosas e chocolate quente
desfeito nas noites de Inverno

Lê-me
e leva-me para lá do arco-íris
enquanto o Sol fica à espreita

MIS
23 Novº.2011

Porquê, a lágrima?

Porquê a lágrima
perdida na noite sem alvorada
desfeita no teu peito luzente
dum amor mais belo
que me há-de guardar
para lá da morte nunca esperada?

Porquê a lágrima
enrolada de mar e sal
do soluçar contido no silêncio
quebrado de ais e sucos
nos abraços da dor
que sempre paira no amor?

Porquê a lágrima?

Será... já... de saudade?

MIA
23 Novº. 2011

terça-feira, 22 de novembro de 2011

nascerão sempre flores

Leva-me
nas asas dum poema
cheio de lágrimas
e claves de sol
onde dançarão as cinzas
no abraço dos fantasmas

Poderei sempre voltar
no coração de quem me ama
ainda que o pó se arraste
nos caminhos da saudade

À beira do precipício
nascerão sempre flores

MIA
22 Nov. 2011

nada haveria sem TI

Nada
poderias ser TU

Nem rios
nem mares
nem continentes
nem asas voando

TU
simplesmente TU
em mim
como se nada mais houvesse
para além de TI

MIA
22 Novº 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Chaminés de Ponta Delgada

Em silêncio
como sentinela vigilante
em campos de guerra
levantam-se por entre nuvens
e ficam especadas
com os olhos fora das órbitas
espreitando
como se o perigo viesse do mar

São assim
as chaminés de Ponta Delgada
vistas da "minha" janela
quando levanta a neblina
nos dias em que o sol
só nasce à tardinha

MIA
3 Novº 2011

Não quero falar de futuro

Meu amor
porque vieste hoje
falar de futuro
se eu só queria ouvir
o silêncio das horas mortas?

A manhã nasceu
alagada de lágrimas
e chorou
chorou tanto
que os olhos se afogaram
onde há muito
os pés tinham naufragado

Logo hoje
quiseste falar de amor
quando eu só queria
o silêncio dos tristes
no derradeiro soluço do sol

MIA
3 Novº.2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

os teus olhos negros

Hoje, vi os teus olhos
onde há tanto tempo me não via

Cada vez estão mais negros
e já não são o meu espelho

O brilho, era do sol
e por trás deles
a tristeza da minha ausência

E tive pena...

MIA
28 Outº 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O amor, é já ali

Oh alma enjeitada de abraços
para quem te guardas?

Sai de ti
e enche-te da ternura
que te faz falta

O amor, é já ali
na esquina dum desejo
na procura dum beijo
num suave amanhecer
ou na noite feita esperança

MIA
27 Outº 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Saudade

Olho
bem no fundo dos meus olhos
e ainda te vejo passar
pisando todos os cristais
que não partiram de saudade

E beijo-te
e dou-te as mãos
e enrolo-te o cabelo
como fios tecidos de amanhecer

E quando fecho os olhos
sempre te (a)guardo

MIA
26 Outº 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Como se não houvesse amanhã

Já não importa
se passas
se gritas ou calas

Hoje
é só mais um dia
do resto da tua vida
por viver

Eu
continuo a passar
vivendo
como se não houvesse amanhã

MIA
24 Outº 2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Porque ainda escrevo

Porque escrevo, hoje?

Para não esquecer que existo
depois dos dias de silêncio
que a morte do sol trouxe

Para lembrar que respiro
e ainda quero acreditar
que esperar é um caminho

Para dançar com as palavras
que trauteio ao som da chuva
no meio da tempestade

Escrevo, hoje
porque quero lembrar
que ainda não tinha esquecido

MIA
24 Outº 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sempre há...

Felicidade
sempre se quer
e nem se sempre tem
sempre se procura
e nem sempre se encontra

Mas
olhando bem lá dentro
naquele cantinho
espelhado de saudade
há sempre uma luz
mostrando que existem
momentos felizes
que continuam a sorrir
em qualquer amanhã
vestida de sol

MIA
21 Outº 2011

Solidão acompanhada

Hoje
não me importo de ser a solidão

Quero pensar
carpir se preciso for
e respirar o ar fedorento
que os tempos carregam
neste Outono de triste sol

Não me arrasto
como as folhas caídas
nem me leva o vento
por caminhos traçados
como se fosse fado

Hoje
não me importo de ser a solidão
nas horas moribundas
porque olhando o caminho
estou sempre acompanhada.

MIA
21 Outº 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Bate coração

Que fazer
quando o coração cresce
e morre de frio
sem telhados para se aquecer?

Deixá-lo bater
num peito aberto de liberdade
ou silencia-lo de fome
nas bocas cheias de nada?

Não, coração
bate como nunca bateste
grita como nunca gritaste
e mostra ao mundo
a tua pátria agonizante
que há-de reerguer-se
mesmo que os vampiros
passeiem impunes
pelos prados ressequidos
da esperança que não há-de morrer

MIA
19 Outº 2011

No meu país de sonho

Tenho frio

Não, porque neve
não, porque falte o sol
não, porque esteja frio

Tenho frio

Pela nudez do meu país
e dos descamisados
sem fôlego para respirar

Tenho frio hoje
e por quanto tempo mais???

MIA
19 Outº 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ficando

Há tantos dias por aí

divagando

como o olhar que te procura

Indo

e não indo

mas para sempre

ficando

MIA
13 Outº 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O bater do coração

Tenho um gigante
apertado no peito

Bate tanto
tanto, tanto
que quase morre
de tanto bater

Bate por outrora
por agora
descompassado
a compasso

Batendo
para não me perder

MIA
5 Outº. 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

Para meu primo com Alzheimer

São tristes as palavras
do teu olhar longínquo
que ninguém entende
a não ser a tristeza

São silenciosos os gestos
disformes do teu corpo
que ninguém entende
a não ser o silêncio

São tristeza
são silêncio
são mundo sem flores
nem cor
demente
onde só o coração
é vida

MIA
2 Outº. 2011

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um desejo

Meu amor
e deixa-me chamar-te assim
que amanhã pode ser tarde

Mando-te um beijo
uma flor
um desejo
e os meus braços abertos
à procura dos teus
no cansaço dos dias
e das noites de silêncio

Deixo-te a ternura
dum embalar descansado
e um sorriso
misturado nos teus lábios
que a minha boca guardou
para se desfazer
no reencontro de nós.

MIA
29 Setº 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O teu canto

Meu amor
ai se eu pudesse, meu amor
subiria toda a escadaria
para te levar flores

Muitas, de mil cores
para espalhar
sobre o teu canto
encantado
onde sempre me deito

MIA
27 Setº.2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Onde pára a tua estrela?

Por favor diz-me
qual é a tua estrela no céu
que cansei de olhar
de tanto andar à procura

Já as confundo
de tanto me olharem
e em nenhuma reconheço
a cor dos teus olhos

Dá-me um sinal
brilha mais se puderes
porque não quero esquecer

Mas logo hoje o céu
está tão estrelado
como te vou reconhecer?

Vou esperar por amanhã...

MIA
26 Setº. 2011

sábado, 24 de setembro de 2011

Na avenida mais longa da cidade

Confunde-se com o cair das folhas
quando se arrasta pelo fim do dia
na avenida mais longa da cidade

Leva o malmequer ao peito
desfeito de menina/mulher
na agonia dos dias sem sol

Vai triste, vai só
e a frescura é do vento que passa
sem tempo para carícias

Para o seu funeral
tem o desejo do cheiro das rosas
que deixou pelo caminho
e da cor das papoilas
que há muito vestiu p'ra se perder
nos dias sem amanhã

MIA
24 Setº.2011

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Era a noite mais linda

As luzes tremeram
o espelho estilhaçou-se
quando a porta bateu
para acordar os fantasmas
que dormiam dentro do peito

Dançaram as paredes
como há muito se não vissem
acendendo o luar
onde as estrelas cadentes
espreitavam pelas janelas

Era a noite mais linda
de todas as noites que aconteceram

MIA
23 Setº.2011

O meu corpo

O meu corpo
é um rio ...

É o teu
grito de liberdade
afogado num beijo

O meu corpo
é a tua casa...

E eu
não sou o meu corpo

MIA
23 Setº 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Tu e eu

Tu
sempre me falas dos medos
e de noites de leitura
acordada nos livros

Eu
falo-te das cores dos sonhos
manchadas de pesadelo
que torna cinza o luar

Cruzamos o olhar
no brilho dum sorriso
e o até amanhã
é sempre um beijo
um beijo
um beijo...

MIA
13 Setº.2011

sábado, 10 de setembro de 2011

"Ne me quittes pas"

Tinha um não sei quê
de diferente
que me fazia amá-lo
como se fosse meu
e sempre que
a sua voz girava
o meu corpo balançava
em braços
que não eram os seus

Ouvia-lhe as palavras
como se fossem minhas
sentia o cheiro dos "gaulloises"
como se das minhas mãos
espreitassem
e guardava
o seu sorriso enigmático
no espelho
onde diariamente me via

Deixei-me morrer
na sua morte
e guardei as lágrimas
junto ao vinil
que ainda hoje
me faz voar e dizer
"ne me quittes pas"

MIA
10 Setº 2011

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A lua e o mar, ali tão perto

Olha meu amor
já viste hoje a lua?
Parecem os teus olhos
quando a noite
cresce nos meus seios
E as estrelas?
De tantas
já parecem os teus sinais
Por favor
leva-me a ver o mar
que quero sentir-lhe o cheiro
na tua boca espraiada de beijos
e ouvir a tua voz
como se fosse barco à deriva
em noite de desassossego
Vamos?

Beijo
MIA
9 Setº 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

a tua voz

A tua voz.
Sim a tua voz.
Uma melodia no meu silêncio.
Um rio na minha foz...

Besito de mil coloresNote

MIA

domingo, 4 de setembro de 2011

Para ti

É Setembro
e a noite hoje caíu tão cedo
que me lembrei do teu abraço
quando o adeus
foi o descolar do teu peito no meu

Trouxe o teu cheiro
nas ondas do meu cabelo
e na "écharpe"
onde o meu corpo esvoaçou
como gaivota à espreita
dum mar de desejo

Deixei-te o olhar e o sorriso
para se tiveres frio
te embrulhares de mil cores
quando o sol se deitar no leito
do rio que guardo no meu peito.

Um beijo
MIA
4 Setº 2011






domingo, 28 de agosto de 2011

o teu corpo

O teu corpo é o meu poema...

Não sei se escrito
às luzes do novo acordo
se percorrido
por estas mãos que beijas
quando te adoçam a boca

É o poema que releio
antes da lua se apagar
e que em "braille" leio
quando o sol ensonado
se espreguiça no teu olhar

É o poema musicado
em dó
em fado
meu fado
meu fado
meu fado...

MIA
28 Agosto 2011

sábado, 27 de agosto de 2011

Sós...navegando

E ao sabor das ondas
deixar-me-ia levar
como nenúfar colorido
nessa jangada
que só tu sabes navegar

Que importaria o horizonte?

O céu estaria estrelado
o vento de feição
e nós à deriva beijados pelo luar
ainda que a noite fosse breu
e a única luz o nosso olhar

Sós... navegando
de tanto amar e mar

MIA
27 Agosto 2011

cavaleiro andante

Oh, meu doce
cavaleiro andante
que me inquietas o sono
quando bates à janela
e foges para que te não veja

Desapareces
por praias lusitanas
cheias de aromas e sol
beijado pela areia
que não é a minha boca

Oh doce cavaleiro
como tenho ciúmes do mar
onde mergulhas
e te abraça o corpo
como se fosse o meu

Queria ser nau e partir
e amanhã bem cedo
esperar-te junto ao cais
ainda adormecida
na ânsia do teu beijo
para me acordar...

MIA
25 Agosto 2011

Nortada


Tenho frio, meu amor...

Um frio que vem do norte
e me levanta a saia
que tento vestir com as mãos
onde o corpo fica mais nu

Mas de repente penso
que a nortada podias ser tu
e eu não taparia mais nada
ainda que a saia subisse à cintura

Abraçar-te-ia com um beijo
e deixaríamos acontecer
o vendaval que nos faria tremer
até um novo dia nascer

MIA
26 Agosto 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Tomara, meu amor

Tomara, meu amor
que fosses o mar

Aquele mar que eu amo
e me inebria
quando docemente
lhe dou os pés a beijar
e ele sem pudor
me vai tomando o corpo
num vai e vem sem parar
tornando meus ais
cada vez mais profundos
meus seios
cada vez mais hirtos
minha boca
entreaberta à espera
meus olhos
cada vez mais cerrados
pronta para
me deixar levar de prazer
nas águas que não são calmas

Tomara, meu amor
que fosses o mar
e o meu corpo o teu beijo.

MIA
23 Agosto 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mulher/Amiga

Mulher/Amiga
é para ti este poema
feito da ternura
que trago no meu peito

É para ti
que ris desfeita no meu riso
que choras quando choro
ou quando as minhas palavras
são os sons da tua melodia

É para ti
este poema sem idade
que roça o desespero
de não poder estar lá
quando a tua dor
se veste da cor da minha

É para ti este poema
de Verão sem tempo
por seres amiga
sempre tão presente
tão terna
tão igual
tão Mulher...

MIA
22 Agosto 2011


domingo, 21 de agosto de 2011

Sufoco

Sufoco nesta humidade
que me gruda o corpo

Asfixio nas lágrimas
que caem lá fora
e que por trás da vidraça
se confundem nos meus olhos

Morro neste silêncio
que os trovões acordam
e onde não quero ficar

Até que
sorrateiramente
pé ante pé
me embalo de claves de sol
e deixo-me levar
por aquela nuvem
negra como a alma
que carrego para lá do vento

E vou...

MIA
21 Agosto 20011

sábado, 20 de agosto de 2011

Cheia de frio

Visto os versos mais tristes
mesmo quando o meu riso
se desfaz da loucura
onde me levam as palavras

Visto-os como um manto
esvoaçando de negro
que cobrem meus olhos
cansados de tanto querer

Visto-os de manhã
à tarde e à noitinha
de cada vez que a tristeza
passa adormecida
sem tempo para acordar
e de todas as vezes que os visto
fico mais nua e cheia de frio.

MIA
19 Agosto 2011


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Coração vadio

Coração que deixa de bater
nos dias em que a dor
é mais longa que a morte
anunciada dos afectos

Coração que não respira
afogado em trombos de mar
morto nas safenas
ressequidas de ilusão

Coração vadio
revascularizado de pranto
deixa-te de novo pulsar
porque amanhã
pode ser tarde demais
para voltar a ver o sol

MIA
20 Agosto 2011


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Ausência - feito em Julho


"Ausência"

Meu amor
não se acaba o amor
quando começam os dias
longe de ti
mas do meu peito
cresce um rio sem margens
que me afoga de saudade

É o Verão que corre
e não parece
é a maré cheia de lágrimas
é um coração que quase morre
é a tristeza da noite
quando adormece o luar

Sãos os olhos vazios dos teus
a boca orfã de beijos
o corpo seco de desejo
as mãos abertas de nada
na ausência do teu cheiro

Por isso, meu amor
volta depressa
que se faz tarde a ternura
e a solidão fica cansada
de tanto, tanto bater.

Um beijo
MIA

sábado, 13 de agosto de 2011

A falta que ainda me fazes

Mãe
tenho as mãos tão frias!

Frias
daquele gelo que bate no coração
e desce pelo estômago sem parar
para cair bem lá em baixo
nuns pés arroxeados
que se recusam a caminhar
de insensíveis que ficam

Já não são pés nem são nada
transformados que estão
em deslize de ski alpino
sem metas para cortar
nem trenós que me possam levar
para lá do abismo onde me sento

E do rosto, Mãe,
do rosto já não espreitam lágrimas
porque os olhos são blocos de gelo
transformados em glaciar
que se desloca vagarosamente
ao sabor dum vento agreste

O corpo, esse já nem sinto
se bate ou deixa de bater
se ondula ou se deixa morrer
porque as mãos estão tão frias
que só lembram o calor das tuas
quando me pegavas para me aquecer

Quando me dói, Mãe,
sinto ainda mais a tua falta.

MIA
13 Agosto 2011

Intranquilidade

Tremo por ter amor
de tanto amar e mar
e deste vento norte
que tanto teima em passar

Tremo ao relento
dos sonhos sózinhos
perdidos num corpo
doente por respirar

Tremo de delírio
na noite insóne
que de tão longa
reabre chagas já mortas

Tremo de intranquilidade
sempre que adormeço
enrolada de vazio
com medo de não acordar

Tremo quando abro os olhos
e não vejo as flores crescer
nem as gaivotas passar...

MIA
13 Agosto 2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um pedido à LUA

Leva-me
leva-me Lua
atira-me um raio
e deixa-me subir
bem mais alto
que o pensamento
que ainda me ata aqui

Quero a tua luz
que a minha
está tão ténue
como lamparina
de cemitério
em dia de todos os santos

Dá-me um berço
na cratera mais linda
embala-me
como minha mãe fazia
para que meu sono
seja mais descansado

Leva-me hoje
que estás tão cheia
porque amanhã
será tão tarde
que não sei
se a minha força
te chegará

MIA
12 Agosto 2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

De sorriso novo

Hoje, surpreendentemente
o sol beijou-me mais forte
e guardei os dias das flores
das cores e dos cheiros
misturados na minha pele
de baunilha e chocolate
feita espuma desfeita
num dia quente de Verão

Ao terceiro dia de muitos
decorei o cabelo de miosótis
como se fossem teus versos
que não quero esquecer
e no renascer dum sorriso
alvo como as manhãs
parti para mais uma viagem
de onde não sei o regresso

Mas quando voltar
ah, quando voltar
já não virei de tão longe
porque cada vez estou mais perto

MIA
11 Agosto 2011

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Neblina no olhar

Não vejo
o sol
os sorrisos
a cor das flores
e o azul do mar

Desceu-me a neblina
num olhar de cataratas
que enegreceu o sonho

Não ouço
o rir das crianças
o marulhar
as gaivotas
e o vento norte

Ausentei-me de mim
para lá daquela nuvem
que o vento há-de levar

Só sinto o teu cheiro
embrulhado no meu
de baunilha e chocolate.

MIA
10 Agosto 2011
Leio e releio os teus versos
que entranho
de tão estranhos se tornarem

Passo e repasso as minhas mãos
para sentir o calor das tuas
quando se perdiam em mim

Encerro os meus olhos
para ver o brilho dos teus
quando o luar te banhava

Cerro a boca como túmulo
p'ra não perder os teus beijos
desfeitos como lágrimas

Mas o meu peito
escancaro-o à liberdade
ainda que me faça doer

MIA
8 Agosto 2011

Oh alma perdida!

" Notam-se, nos jardins da alma,
espantosas raridades
plantam-se amores perfeitos
e nascem, depois, saudades"...... (palavras da minha querida amiga Isaura Moreira e que fizeram sair de mim, outras palavras)

Oh minha alma
meu jardim abandonado
onde as flores secas
são os amores imperfeitos

Oh campo de flores
sem caule e sem cor
que nada mais mostra
do que pó, cinza e nada

Oh janela da saudade
onde a corrente de ar
se mistura com lágrimas
secas de estio agreste

Oh alma sem vida
perdida em pleno Agosto
no meio da maré alta
onde o amor já foi azul

Oh alma penada
que te arrastas para lá do tempo


MIA
10 Agosto 2011







segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Voarei

Voarei
quando o gesso das minhas asas
se desfizer no pó do tempo

Voarei
à volta do sol e do luar
até a loucura abrandar

Voarei
para lá do túnel
onde escondo o que de mim ficou

Voarei
sem rumo
sem mares
sem norte
sem asas também
até encontrar a estrela polar

MIA
8 Agosto 2011



Tão nua

Tão nua
tão de quatro, sem acto
sem membros
como cilindro
rolando para o abismo

Os olhos
fora de órbitas
pendurados de vazio
num crânio
acéfalo de esperança

Só os cabelos
escorridos
ao vento
tapando o que resta

MIA
8 Agosto 2011

Esta dor

Rastejo
e faço da minha loucura
o passeio onde me rasgo
até que a pele me doa

Rastejo ao contrário
de frente, de costas
até que as minhas vísceras
parem de sentir

Preservarei o olhar
para voltar a ver o sol
nem que seja
à hora das trindades

MIA
8 Agosto 2011

E as rosas perderam a cor, em pleno verão

Em pleno Verão
secaram as flores e as madrugadas
e só os rios transbordaram
do meus olhos feitos margem

Foi-se a ternura
vestida dum luto silencioso
encerrada numa urna de abraços
sem braços para te apertar

Tal como vieste
desapareceste sorrateiramente
indiferente à voz rouca
que te chamava sem resposta

Deixaste-me as rosas
e o champanhe a aquecer
como pregadeira amaldiçoada
pendurados no meu peito

Ficou-me o silêncio inerte
sem eco, moribundo,
às portas da morte
onde me deixarei morrer
sem sol, sem luz, sem nada...

MIA
8 Agosto 2011

sábado, 6 de agosto de 2011

Os teus olhos, meu amor

Os teus olhos, meu amor
onde à noitinha me deito
tem a cor das folhas secas
das rosas com que me vestes

São a janela aberta ao luar
onde os raios de desejo
vão descendo lentamente
pelas mãos com que me despes

São as estrelas cadentes
que caem sobre o meu corpo
num estranho movimento

Oh meu amor, os teus olhos
são a manhã que me acorda
e o espelho onde me vejo

Beijo
MIA
6 Julho 2011

domingo, 24 de julho de 2011

Frankfurt

Não há estrelas nem luar
nem toques de clarim
na noite vestida de negro

O cetim rasgado
confunde-se com as pedras
despidas pela erosão

Sobram os espinhos
de rosas desfloradas
quando o Main transborda
da corrente de lágrimas
que abandonam o peito

Frankfurt à noite
igual a qualquer cidade

MIA
24 Jul 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O teu nome

Sussurro o teu nome
devagar
devagarinho
mas sempre que
a minha voz se levanta
chamo-te só meu Amor

Esqueço-o
no rubor das noites
e das ternas madrugadas
no suor das flores
em manhãs cheias de Verão
no entardecer nublado
desfeito de amar e mar

Desfaço-o
na minha boca
quando o som do meu
sai da tua
e às apalpadelas
em descendo
para que não se apague a LUA

MIA
22 Julho 2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Para ti

A tua voz
adoçou-me o pensamento
e quis tanto
dar-te o beijo que te guardo

Mas meu amor
era tão longa a distância
que despi as minhas asas
e nada mais ficou
que o teu beijo ausente

MIA
21 Julho 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Amor não tem hora

Deixa-me tocar teu corpo
como penitência de peregrino
arrastado de promessas

Deixa-me que estas mãos
se entrelacem nas tuas
como terço deslizando

Deixa-me que te afague
que aconteça, que te beije
ainda que a noite seja uma criança.

MIA
18 Julho 2011

Um beijo

Mando-te
o sabor dum beijo
que hás-de degustar
da minha boca
com sabor a mar
Um beijo alado
de cores do arco-íris
em campo de girassóis
à procura do Sol
Um beijo
que guardo sentada
no vão da saudade...

MIA
18 Julho 2011

Conta-me

Por favor, meu amor
não me contes a cor dos teus olhos

Conta-me
das flores, dos rios e das cores
que os teus sonhos guardam

Conta-me
das marés, dos ventos, dos temporais
que as tuas mãos fizeram poema

Conta-me
das manhãs, das tardes e dos dias
em que o teu voo é ausência

Conta-me, meu amor
baixinho, devagar, devagarinho
como solo de violino em noite estrelada.

MIA
18 Julho 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Para ti

Inventas-me o corpo
navegando em maré cheia
com voz rouca de gemidos sem ais

Eu sonho-te a boca
afogando-me de beijos
como náufrago prestes a perder-se

As noites, meu amor,
seriam o perfume do mar revolto
quando se desfaz junto ao cais...

Beijo
MIA
14 Jul 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

O abuso da chuva

Manhã sonolenta esta
de alcoviteiras espreitando
como quem passa sem ver

Perguntei-lhes pelo sol
e a chuva molhou-me
sem perguntar se podia

Olhei-a com desdém
e sem me importar pensei
que o tempo dela era outro
e o meu continuava a passar

MIA
12 Julho 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sei dum rio

Meu amor, sei dum rio
que me corre no peito
rumo ao delta do teu olhar

Meu amor, sei dum rio
que transborda de tristeza
quando as noites morrem de tão sós

Sei dum rio, meu amor
que vive correndo
quando os teus braços abertos
são simplesmente o mar

MIA
11 Julho 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Noite

Oh meu amor
ontem, já nem a lua era nova
e a noite que estava triste
só brilhou quando sorriste

Navegamos à procura
duma ilha deserta de pudor
onde os corpos molhados
foram a alegre madrugada

O teu peito
foi a sombra da palmeira
onde me deixei adormecer

MIA
8 Julho 2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

Afectos

Perdi amores
que nunca deixei de amar
mas de todos que perdi
ganhei estrelas
que continuam a brilhar
nas viagens duma vida
feita de momentos
que a compasso
não me deixam perder

Os afectos
são o mar onde mergulho

MIA
28 Jun 2011

sábado, 25 de junho de 2011

O poema que me pediste

Pediste-me um poema de amor
ao ver o brilho dos meus olhos
e eu corada, baixei-os
porque a luz que irradiavam
não era de paixão,mas dos holofotes
que insistentemente mentiam
quando te mirava por dentro

Guardei-te o olhar
e o jeito da tua boca entreaberta
de sorrisos suspensos
quando me enlaçaste na dança
e me arrastaste nos passos
esvoaçantes dum ritmo "caribeño"
que me fez entrar na noite

Quando as luzes se apagaram
guardei o teu perfume
e o sussurro do teu respirar
mas tão ao de leve
que o amanhecer o levou
como vento suão
aquecendo uma manhã de Verão.

MIA
25 Jun 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O que será?

Que melaço é este
a escorrer-me do peito?
Será amor ou melancolia
de ser estrela da tarde?

Diz-me ao ouvido
sussurra-me
abraça-me forte
e beija-me de novo
porque não quero esquecer.

MIA
22 Jun 2001

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Onde anda a poesia?

Será que o poema
só pode falar de amor,
de encontros e desencontros?

E daqueles olhos negros
sepultados todos os dias,
não se pode fazer poesia?

E dos vulcões purulentos
fervilhando por entre a pele,
não se pode escrever?

Que o poeta não seja cego,
surdo, mudo ou castrado,
quando vomita a palavra
mesmo que provoque azia.

MIA
20 Jun 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pela cidade

Há quanto tempo
não te acariciam as palavras?

Há quanto tempo
não te brilham esses olhos
de peixe fora de água?

Há quanto tempo
rastejas na sarjeta
da cidade em movimento?

Há quanto tempo
te deixaste escolher
para atormentar consciências?

E por quanto tempo mais
vais esperar pela liberdade
de morrer no próprio vómito?

MIA
Ponta Delgada
15 Jun 2011

sábado, 4 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Como quisera, meu amor

Quisera o teu peito dourado
em abraços feitos de espuma
navegando por entre o mar

Quisera fazer do teu corpo
a minha cama de seda
mas quase sempre desfeita

Quisera, meu amor,
passar além do Bojador
a deixar-me morrer na mesma praia.

MIA
1 Jun 2011

domingo, 22 de maio de 2011

Hoje

Hoje não quero
fazer um poema de amor

São quase sempre de dor

Hoje quero
sussurrar palavras soltas de pecado
às portas dum vale vibrante de sentidos

Hoje só quero amar
como se há muito te não visse...

MIA
22 Maio 2011

sábado, 21 de maio de 2011

Para a minha amiga Beta

Dói-me, sempre que te dói
e são as tuas lágrimas
que me salgam a boca
quando rolam dos teus olhos
enevoados de passado

Tomara que as minhas asas
te levassem um abraço
rodeado de amizade
e o sorriso dum beijo
que tantas vezes é amargo

Mando-te um poema
um insignificante poema
que guardarás ou não.

Um beijo
MIA
21 Maio 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dor

Daquele corpo
consumido por um vulcão
já nada restava
a não ser dois cristais
direccionados à porta
por onde entrava a luz
que lhe segurava a vida

À hora marcada
um regaço de malmequeres
irradiou pelo quarto
que pétala a pétala
ela desfolhou na sua boca
num gesto de bem querer

Deixou rolar uma lágrima
daqueles olhos nunca gastos de amor
tossiu de comoção
e num último esgar deixou-se partir

Ela deu-lhe a beber o último mel
no meio dum abraço
que um arrepio fez estremecer
e num derradeiro esforço
arrastando-se como se não tivesse pés
tocou a campainha pela última vez
e deixou que lho levassem

MIA
20 Maio 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Alma

Oh alma despudorada
desalmadamente despudorada
quando cantas as palavras
silenciadas para lá do tempo

Deixa-te embalar
pela ténue luz do sol pôr
e finge adormecer
entoando canções de aurora
mesmo que a cloaca do céu desabe em ti


MIA
19 Maio 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um poema só

Sentir-te no meu poema
quando as noites
partem de tão cedo
é como despir o sol
do meu corpo enregelado
e deixar-me morrer de frio

Sentir-te no meu poema
nada é mais que lembrar
que ainda não tinha esquecido

MIA
18 Maio 2011

Sem eco

Ululava palavras
que ninguém ouvia
e o eco espalhava-se
miseravelmente só
rodeado de hienas
pavoneando-se
num vale de vaidades

E de tanto gritar
tornou-se silêncio.

MIA
18 Maio 2011

Aquela Mulher

Arrastava os pés pelos dias
levada por uma torrente de lama
que a noite invariàvelmente trazia

No peito deslizavam icebergs
que o rosto escondia
atrás de nódoas coloridas

Já não passava, só ia,
até que um dia
a morte abraçou-a de ternura
e pela última vez
entregou-se nos seus braços
como há muito o não fazia

MIA
18 Maio 2011

Carcaça

De membros arrancados
rebolava-se na dor
que há muito a amputara

Era só um corpo
sem face nem olhos
e de boca despovoada
onde cobras espreitavam
logo ao amanhecer

Restava-lhe
uma carcaça adormecida
onde jamais renasceriam flores
quando os pólens se cruzassem
nos ventos da Primavera

Há muito se deixara perder
no sono duma ausência
tão longa como a distância

MIA
18 Maio 2011

terça-feira, 10 de maio de 2011

Disfarce

Naquele dia, saíu à rua
vestida da côr do amor
mas de tão apressada
esqueceu-se de mudar o olhar
que escondeu triste por trás dos óculos

Estava mais bonita
mas mesmo assim recuava nos abraços

No regresso à noitinha
correu para casa
deixando a côr pelo caminho
e como feto abortado de ilusão
deixou-se afogar em golfadas de tristeza.

MIA
10 Maio 2011

a morte dos sonhos

Morrem os sonhos
ensombrados de nuvens
quando nasce o dia
vestido de cinza

Escorrem de desânimo
por vidraças húmidas
silenciados de preces
há muito emudecidas

São a dor rastejando
sem vértebras
pisada por blocos de betão
quebrado como asas de cisne

MIA
9 Maio 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Vai e vem

Meu amor de Primavera
amassa-me o corpo
vazio das tuas mãos
enquanto bafejas palavras
duma saudade adormecida

Quando partires de novo
sentar-me-ei à tua espera
de manhã, à tarde, ou à noitinha
no meu jardim d'Inverno
onde as flores são o arco-íris

E não te percas
para que as pétalas não caiam
nem a cor se desvaneça de mim.

Beijo
MIA
6 Maio 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cansaço

Diáriamente me invento
para que a respiração
cadenciada do meu peito
atravesse a opacidade
de muralhas intransponíveis
construídas num vai e vem
de olhares perdidos de desassossego

São dias tão iguais
que de diferentes tem o macabro
de horas passadas em torres
de espanto e agonia
sacudidas por sinos de igreja
que lembram o esquecimento
de vidas há muito perdidas

E como as flores
abortadas na primavera
esvoaço por escuros caminhos
fechando os olhos adormecidos
dum cansaço feito noite
até me inventar num novo dia

MIA
5 Maio 2011

sábado, 30 de abril de 2011

Quando o amor é azul

Meu amor
tanto de nada sou
quando sufoco nos teus braços
musculados de marés altas
e me deixo levar pela noite
equatorial dos sentidos

Tanto de nada sou
meu amor
quando tudo é tanto
o que voando sentimos
e nos desfazemos na praia
de lençóis feitos espuma

Tanto de nós é tudo
quando o amor é azul

MIA
30 Abril 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 Abril 1974/2011

Já não sei se terias nascido
nesse secreto amanhecer
se a guerra não tivesse levado
os filhos que tanta falta faziam

Do troar da canção
nasceu um país de esperança
no coração dum povo
vestido de cravos vermelhos
sem tempo para morrer

Mas tal como as flores
neste jardim de Abril plantado
os sonhos morrem de côr
no meu país de todos os dias
onde o trigo é o inverso do sol

Renovem-se as canções
dum país há muito sonhado
onde os vampiros se acoitam
por trás de opacas vidraças.

MIA
25 Abril 2011

Aquele 25 de Abril tão triste

Corri como há muito não fazia
julgando que o teu abraço
aberto de saudade
ainda me esperaria

Mas cheguei tão tarde
que só o gelo do teu corpo
pude sentir nas minhas mãos
quando tocaram a cruz das tuas

O silêncio fez-se pranto
e num desfazer de lágrimas
nada mais me restou
que molhar-te o rosto
já guardado numa caixa
que não era de cristal

Ficou-me a dor
das palavras que não ouviste
naquele dia 25 de Abril
que se encheu de flores
para te ver partir

E já foi há tanto tempo
e por tanto tempo
que ainda hoje
me embrulho de saudade.

Um beijo
MIA
25 Abril 2011

sábado, 23 de abril de 2011

Um sonho de Páscoa adormecido

O sonho não acordou hoje
da névoa que esperava o tempo
e ficou adormecido
como o céu em plena Páscoa de Abril

Embalado nos meus braços
paralisados de carinho
deixei-o dormir
como se amanhã não houvesse
e o chão se abrisse
em cratera de vulcão adormecido

Estava cansado de mim
e eu cansada de sonhar...

MIA
23 Abril 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Um poema de Páscoa

Vou-te falar dum segredo
que sendo só meu
posso contar ao vento

É daquele poema guardado
numa caixinha de cristal
que quando lhe dou corda
liberta a bailarina feliz
que roda, roda sem parar

Já sei de cor as palavras
e como Margot enfeitiçada
deixo-me levar pela música
embrulhada nos teus braços
até o dia nascer

De tanto rodopiar
cai o suor dos meus olhos
que gota a gota
molha o tule do meu vestido
que o tempo teima em rasgar

É o segredo que guardo
dum poema de Páscoa
na caixinha de música
que há muito tempo me deste
e que às vezes ponho a tocar

MIA
21 Abril 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Recado

Jamais poderia amar a tua paleta
se nela não vislumbro o arco-íris
e o azul que pintas é tão igual
que é sempre em cinza que te leio

Rastejas por páginas virgens
que maculas de presenças
e sussurras gritos de coisa nenhuma

Pintas palavras a uma só cor
abanas as asas para te mostrar
só que não sabes voar...

E nós a termos de te aturar!

MIA
20 Abril 2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Todos os dias

Todos os dias me deito
voando ao encontro da lua
que foge desesperadamente
ao encontro dum novo dia

Todos os dias me levanto
e me arrasto
e me desdenho
e me culpo
e me visto de pele de cordeiro
para morrer na Páscoa
a uma mesa desfeita de afectos

Todos os dias me desfaço
como o mar em plena praia

E todos os dias eu volto
ainda que queira partir...

MIA
19 Abril 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Que mais te posso dar?

Que posso eu dar-te
meu País esventrado
de fortuna e valores
se nada tenho além da palavra?

Paralisa-me como um grito
esse catecter enfiado nas veias
que te faz respirar em soluços
de olhar à volta e nada ver

Há muito te dei os cravos
e as rosas
e os botões de açucena
e os filhos pálidos de futuro...

Que mais te posso dar
para que não morras
como um velho há muito esquecido
se já nada tenho
além do orgulho de ser português?

Um novo Abril?

MIA
11 Abril 2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

As minhas mãos

Oh
Se das minhas mãos
saíssem palavras
levá-las-ia o vento
ao encontro do mar

Se das minhas mãos
nascesse a fartura
cresceriam celeiros
sem nunca acabar

Se das minhas mãos
brotasse o amor
jamais as crianças
haveriam de chorar

Se das minhas mãos
voasse a ternura
todos os velhos
teriam a quem amar

Se das minhas mãos
pudesse nascer o sol
só haveria luz
e o mundo seria melhor

Mas as minhas mãos
estão tristes e caladas
porque há muito caíram
mortas de cansaço

MIA
8 Abril 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Naufrágio

Mergulho em ti
como náufrago à deriva
em marés que de tão altas
rondam o infinito
e vou morrer
naquela praia longínqua
onde a espuma
que me sai da boca
é a rebentação do mar

A areia molhada
é o que resta dos meus olhos

MIA
7 Abril 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

Só o presente

Por cada olhar teu
respirarei um poema
que tornará mais fértil
a doce madrugada
e na troca dum beijo
renascerá o sol
da manhã feita desejo

Por cada olhar meu
passará uma nuvem
disfarçada de esperança
que encerrará meus olhos
para que não leias

Por cada dia nosso
um presente sem futuro

MIA
5 Abril 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Do outro lado

Tão escuro por aqui...

E este silêncio
de que tanto fugi
é que me veste

Não há rostos
nem mãos acenando
só corpos feitos pó voando

Os olhos
já não são olhos
só pirilampos difusos

Os corações partidos
deixaram de bater
os úteros de parir
e os varões
já nem são assinalados

Toca-me um arrepio

Serás tu?

Esvoaço
na procura do teu cheiro
e não encontro

Pela primeira vez
desisto

Vou descansar em paz...

MIA
30 Mars 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Instabilidade

Aprendi
no cansaço das horas
a instabilidade do tempo

É a chuva que cai
e o vento que passa
arrancando a pequena flor
dos braços de sua mãe
É o sol ausente
de ainda não ter chegado
É a lágrima
banhando um rosto de mulher
É a dor cinzenta
sem tempo para sorrir

É o mau tempo
acampado no jardim da Primavera
dum país sem norte...

MIA
28 Mars 2011

domingo, 27 de março de 2011

Sem SOL

Manda-me um beijo
embrulhado pelas nuvens
mas manda-me um beijo

Um beijo
que preencha o tempo
da hora desaparecida
e que não sei
se voltarei a encontrar

Só queria um beijo
pendurado num raio
que me aquecesse a alma
fria e deserta de ti.

MIA
27 Mars 2011

sábado, 26 de março de 2011

Amargura

Esta amargura
esta dor que me dói de tão pura
nasce quando morre o dia

Banho de mel envenenado
em pele seca que já não cabe
num corpo pretérito de perfeito

Uma amargura travestida
de sinfonia de dias sem sol

MIA
26 Mars 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Para ti

Queria ser eu
mesmo que o céu desabasse em mim

Partir do que de mim ficou
com todo o tempo para ficar

Queria voltar a ser eu
para te ver de novo chegar
ainda que me possas partir

MIA
22 Mars 2011

Só um poema

Habito o meu poema
a quem abro portas e janelas
e luzes de amanhecer

Hoje um poema colorido
amanhã escrito na noite mais triste

Só um poema
do silêncio que não calo
na raiz do pensamento

MIA
22 Mars 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Promessa

Leva-me contigo
por caminhos não traçados
para ouvir a tua voz
dizer o poema que não li

Leva-me contigo
num sussurro de palavras
feitas pura madrugada
até a manhã acordar

Leva-me sempre contigo
de manhã ou à tardinha
e dar-te-ei a estrela maior.

MIA
16 Mars 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Pelo Japão

Minha alma
minha janela aberta ao mundo
por onde passam nuvens negras
mais negras do que quem passa

Recolhe-te nesta hora
onde todas as horas que passam
são interrogações prementes
de tudo o que acontece

Fica com uma prece
em honra dos que partiram
e aos que ficaram
estende-lhes a mão solidária

Que dos seus olhos tristes
caia o pano em pleno palco
para renascer a esperança
desfeita pela tragédia

E ainda que a vida continue
nada mais será igual...

MIA
15 Mars 2011

sábado, 12 de março de 2011

Um cheiro de Primavera

Eriçou-me a pele
esse teu cheiro
que me aqueceu o olhar

A languidez do teu abraço
embrulhou-me de azul
e levou-me
até o pecado desabar em mim

Sequei o rosto
lavado de águas mil
e corri trémula
à procura do teu colo
de Primavera anunciada

Senti-me enganada
e tive tanto frio...

MIA
12 Jun. 2011

domingo, 6 de março de 2011

À espera da Primavera

Já nada sou

A minha alma
vagueia para lá do vento
que transformou
meu corpo em infinito

Já nada tenho

Além da dor
arrefecida de saudade
presa ao gelo
envidraçado duma lágrima

Já nada quero

A não ser voltar
no anunciar da Primavera

MIA
6 Mars 2011

cegueira

Por favor
não desabem dos teus olhos
as tempestades mais tristes

Para isso
bastam os meus que cegaram
de tanto olhar o arco-íris

E hoje
só de lentes coloridas
consigo olhar o céu

MIA
6 Mars 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

Palavras

Renasceste dum poema
há muito morto de saudade

Foste presença
em noites de insónia
que amanhecer
era o ter de respirar

Foste ausência
que tardou nos fins de tarde
e que me fazia
querer partir com o Sol

Foste amputação
das minhas palavras
feitas silêncio
ecoando nos meus passos

Foste o que ninguém viu

Hoje és só um poema
sem vértebras
rastejando
como se não tivesses pés

Amanhã
já nada mais serás
além da vontade de te ler.

MIA
4 Mars 2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sempre escreverei ao AMOR

Oh meu amor
tão nua que andava...

Quando hoje
deixei que me despisses de pólen
e me embrulhasses de alfazema
respiramos Primavera
como se há muito não fosse.

E gostei
do brilho da nossa pele!

MIA
2 Mars 2011

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Para uma Mãe

De veias entupidas de pranto
arrasta-se como se não tivesse pés

Já nem sente o abraço amigo
que lhe limpa a alma em ferida

Soluça-lhe a pele
gotejando ao sabor da maré
trazendo-lhe a certeza
que dor maior que parir
é ver um filho partir cedo demais

MIA
28 Fevº 2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ás vezes

Ontem
quis ver-te
mas mal brilhavas
escondido pelas nuvens

Hoje
quis falar-te
mas de tão débil
a boca não se abriu

Para quê procurar-te
se és uma sombra?

Não desisto
desse silêncio/escuridão
mas ás vezes
viro costas
e fico cega, surda e muda.

MIA
25 Fevº 2011

Quem és tu?

Mulher
quem és tu
que sempre que falas de amor
caem lágrimas do teu peito?

Desististe da emoção?
Não?
Então porquê
a aridez do teu rosto?

Adormece a dor
ainda que grite
e por momentos sorri
porque não estás só!

MIA
25 Fevº 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ainda que...

Ainda que faminta
resisti ao teu olhar
e passeei-me por mares
navegados de estrelas

Ainda que triste
sorri ao luar
e da noite fiz
a mais linda madrugada

E ainda
que não seja Primavera
acariciei o teu rosto pálido
respirei fundo e voei!

MIA
23 Fevº 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

surpresa

Apareci
de surpresa no teu olhar
e foi tão de repente
que encerraste os olhos para me não ver

Só que
o tremor das tuas mão traíu-te
e então
guardei-te o beijo que esperavas

Cabisbaixo
coraste
mas não sorriste...

MIA
22 Fevº 2011

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Por aí...

Arrastavam-se os meus olhos
pelo teu corpo feito ocaso
quando percebi
quão precoce te deixaste partir

Do teu olhar sem idade
brilhava a ausência
indiferente ao cair duma chuva
que há muito te vestia de negro

Já nem sombra eras...

Malditas as papoilas da tua agonia.

MIA
20 Fevº 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ausência

Vestiria
a poeira dos teus passos
na noite engalanada de estrelas

Despiria
o teu olhar cintilante
mesmo que nevasse lá fora

Seria de novo tua
ainda que soubesse
ser pela última vez

Mas já não me visto
nem me dispo
porque tu já não estás

MIA
17 Fevº 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Escuridão

O mais profundo de mim
é o mar

Hoje tenebroso
amanhã talvez sereno
mas sempre agitado

Pareço lua
à procura das estrelas
logo hoje que não há luar

MIA
16 Fevº 2011

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma carta de amor

Carta de Amor
Passatempo Clube dos Poetas Vivos (para dia de S. Valentin 2011)


"Uma carta de amor que nunca lerás"

Meu amor,
maldito aquele dia de Verão, em que tive a notícia da tua morte.

De repente o Sol fez-se noite e o meu coração, de tão apertado que ficou, quase deixou de bater.

Desculpa só ter percebido nessa hora o quanto te amava e o tanto que a tua perda me faria sofrer ao longo de toda a minha vida.Ainda hoje e ao fim de tanto tempo, sinto que este amor só foi interrompido e talvez um dia, não sem bem onde, nos voltaremos a encontrar para retomar o que nos roubaram de viver.

Quantas vezes ao olhar-me no espelho, me sinto presa no teu abraço e imagino o teu rosto por trás do meu, sorrindo no horizonte do teu olhar. E é então aí, que percebo sempre que o único que não envelheceu foste tu. E tenho cada vez mais pena!

Recordo a nossa despedida no cais, em que a neblina descia do nosso olhar e tu, ternamente me soltaste os cabelos, para escondermos os beijos sôfregos que não queríamos que ninguém visse, porque os tempos eram outros e o pudor de mostrar o que sentíamos era muito. Como se alguém à nossa volta se importasse com isso, uma vez que a despedida para a guerra era de todos e não só de nós.

Abraçavam-te os teus pais, os teus irmãos e tu sem nunca me largares, ali bem junto ao teu peito ouvindo o soluçar do teu coração, que escondias no sorriso e na promessa de voltares, mesmo que não fosse inteiro. E é essa imagem que perdura nos meus olhos até hoje. A despedida que não queríamos que acontecesse.

Depois foram as cartas e os aerogramas onde jurávamos amor eterno, que a ti te davam força e a mim, me faziam crescer rápido por ser ainda tão nova.

Até que um dia a tragédia aconteceu e a notícia espalhou-se mais rápido que o vento. Ficaria para sempre o incumprimento da tua promessa de voltares ao meus braços. Voltaste sim meu amor, mas envolto numa bandeira sangrando de cor e onde o verde da esperança já tinha desaparecido.

Houve uma nova despedida e desta vez deixei partir contigo um pedaço de mim, que tornou o meu olhar mais triste.

Demorei tempo para me encontrar e já se gritava liberdade quando voltei de novo a amar, sem saber muito bem a quem amava. Acabava sempre por sentir que só interromperam o nosso amor e que poderia ser reatado no tempo em qualquer momento, mas a realidade era bem diferente.

Quis amar desenfreadamente e perdi amores, amaram-me perdidamente e perdidos ficaram, até que me encontrei quando os filhos que não tivemos cresceram e me fizeram mais estável.

Mas ainda hoje meu amor, quando penso em escrever uma carta de amor, é sempre para ti que escrevo, mesmo sabendo que jamais a lerás e não preciso prometer nada, porque o meu amor por ti será eterno.

MIA
9 Fevº 2011

sábado, 29 de janeiro de 2011

O que será?

Sinto falta de alguma coisa.

Há algo que me escapa
mas que continuo à espera.

Talvez à espera
que nasça o mais forte
de todos os sentimentos
e que ainda não descobri.

É impossível
não haver algo mais
só que não sei onde está.

Morresse eu hoje
e partiria incompleta.

Porquê, não sei...

MIA
29 Janº 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Já se foi a Lua-Cheia

Ás vezes distraio-me
e nem dou conta
de que durante alguns dias
espreitas à minha janela

Talvez porque não me importo
do teu "voyeurismo"
nem se me despes ou desejas

Mas logo hoje
que te queria ver e falar
afastei as cortinas
e não te senti por perto

Abri a janela de par em par
debrucei-me até quase cair
e nem um raio encontrei
até que senti um arrepio
que me fez gelar e pensar

Porque sou distraída?

MIA
28 Janº 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Queria

Meu amor queria ser o sol
para te disfarçar as cicatrizes
ou também o luar
para te pratear o olhar
que deambula triste e perdido
nas noites de desassossego

Queria ser o caminho
onde as montanhas
fossem searas de trigo
e os campos de papoilas
a nossa cama de desejo
nos dias quentes de Verão

Queria ser o respirar
da nossa boca feito uma
só voz de liberdade
sem o sufoco dum grito
povoado de rouquidão
clamando pão e justiça

Queria ser eu em ti
e tu para sempre em nós
sem fantasmas de arrepiar.

MIA
26 Janº 2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

Se

Se eu fosse MARIA
colher-te-ia no meu regaço
para tratar das feridas
que o teu coração tem
e que o vento
não é capaz de levar

Cantaria baixinho
canções de embalar
que tornariam
os teus sonhos mais puros
sem a dor
dum constante acordar

Trataria as chagas
esculpidas no teu ser
que transformam o teu olhar
em cristais perdidos
à procura do aconchego
dum colo cheio de amor

Se eu fosse MARIA
elevar-te-ia aos céus
sem medo nem dor
nem tufões de alma perdida
na plena tranquilidade
que só uma Mãe pode dar

MIA
23 Janº 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Para uma menina que nunca será mulher

Diz-me porque choras
porque não sei ler o teu pranto
ou o balanço do teu corpo
quando me estendes as mãos

Diz-me porque estás triste
mesmo quando te dou colo
e nem o calor do meu corpo
serve para te acalmar

Diz-me hoje, se podes,
com gestos ou sussurros
porque amanhã
continuarei a não saber ler
as ausências do teu olhar
e mais uma vez
farei das minhas mãos as tuas
para pintar as flores
do teu jardim inventado.

MIA
19 Janº. 2011

Os meus olhos

Cegasse o mundo meu amor
e pintaríamos aguarelas
para que voltassem a ver

Perdessem os teus olhos vida
que a luz dos meus
seria o teu sol de Verão

Mentisse o meu olhar
e a cega seria eu
por nem o espelho querer ver

Mas pode o mundo cegar
os teus olhos não quererem ver
que os meus serão sempre a verdade.

MIA
19 Janº 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

E o Rio ali tão perto

Sempre que te vejo ao longe
corro ao teu encontro
sabendo que por momentos
hás-de ser meu

Não me importa a altivez
ou a força que te move
porque os teus braços abertos
seduzem-me cada vez mais

Desiludo-me na aproximação
enciumada por não me abraçares
e com a raiva dos ignorados
atravesso-te sem olhar para trás
levando comigo o teu cheiro
com a promessa de à tardinha voltar

Mais um dia em que nos cruzamos
ao vento, à chuva, ao sol
e mesmo sabendo que me ignoras
sei que estarás sempre lá
à minha espera ou só do tempo passar

E todos os dias eu passo...

MIA
18 Janº 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

Esperança

Onde param as madrugadas
despovoadas de nuvens
onde os sonhos dançam
ao ritmo das estrelas?

Andarão escondidas
por este denso nevoeiro
em que as manhãs se confundem
com o entardecer d'Inverno?

Inventem-se novos dias
novas cores, novos destinos
antes que o amanhã seja tarde
e não tenha amanhecer

Voltem os sonhos
os jardins, as madrugadas
e o brilho do nosso olhar
revestido de desejos

MIA
16 Janº 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O beijo do Sol

Hoje beijaste-me
como há muito me não visses
e guardei o brilho do teu olhar
quando te inclinaste
para me levar no tempo

Deixei-me ir
como se fosse a última
e adormeci na promessa
de que havias de voltar
quando menos esperaria

Se puderes
volta amanhã
a qualquer hora
em qualquer lugar
porque fazes-me falta

MIA
12 Janº 2011

Amaria

Amaria o sol
o mar
o luar
o impossível
se fosse azul

Amaria o pó
a lama
a torrente
a tempestade
se fosse esperança

Amaria o vento
se fosse a minha voz
gritando liberdade.

MIA
12 Janº 2011

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Se eu pudesse

Pudesse eu chamar-te rio
e navegaria no teu leito
em noites de lua cheia

Pudesse eu abraçar-te
e ficaria como o mar
p'ra sempre enrolado na areia

Pudesse eu gritar e diria
meu amor
como é bela a madrugada

Ah se eu pudesse amar-te
como seria capaz de voar!

MIA
6 Janº 2011

À espera do Sol

Que sombrio olhar este
que me revolve os cabelos
e deixa que pela face
caiam gotas de água
vindas dum céu a desfazer-se

Por quantos dias mais
terei de sorrir ao contrário
vestida de negro cinza
sem ver o brilho do teu olhar
reflectido na vidraça

Há tantos dias sem ti...

Amaina tempestade
olha para o meu peito!

MIA
6 Janº. 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Suspiro

Abraço o desconforto
e deixo que a brisa
leve para lá do tempo
o sussurro dum suspiro
vestido da cor das rosas

Enlaço-me de desejo
como se há muito te não visse
e clamo baixinho
docemente
o teu nome Primavera

E sorrio sempre...

MIA
5 Janº 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sem sol

Não prometo
não desejo
não espero
simplesmente quero
ver sorrir o sol
debruçado na minha janela
e à tardinha
vê-lo deitar-se
quando abandono o cais
na travessia dos meus passos

Sem sol
sinto a miopia do meu olhar

MIA
4 Jan 2011