quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Hoje, David, o filho do meio, veio lanchar com Beatriz. Vivia com o pai e apesar de estarem sempre em contacto telefónico, viam-se raramente. Também estava preocupado com a saúde da irmã mais nova e depois de ter passado no hospital para a visitar, ficou com a Mãe.
Bia adorava estar com os três filhos juntos, mas sempre que havia oportunidade de ficar a sós com algum, aproveitava o momento para particularizar a conversa. David falava com entusiasmo do seu trabalho de arquitecto e da sua progressão na empresa, mas também do seu novo projecto pessoal de ir pela primeira vez viver sózinho. Para ela esta pretensão não era novidade e agora que ele estava prestes a concretizar esse sonho, ouviu-o com ternura. Era uma decisão arrojada, porque a actualidade da economia nacional não era famosa, mas algum dia teria de ser e ele não queria esperar mais tempo para o fazer.
E como de costume, sempre que estavam juntos, o tempo mágico que viviam passava a correr. Estavam já nas despedidas quando o celular de Bia tocou. Como estava distraída com a conversa, atendeu sem reparar quem chamava. Só quando ouviu a voz de Bernardo do outro lado é que caíu em si e de forma meia atrapalhada desculpou-se para não continuar a conversa. Sentiu um rubor nas faces e não conseguiu disfarçar o incómodo, a tal ponto que David perguntou-lhe se tinha acontecido alguma coisa.
Disfarçou como pode a resposta, mas ficou com o registo do ar apreensivo do filho. Não estava habituado a ver a mãe com ar de quem escondia qualquer coisa e por isso insistiu na pergunta de que se estava tudo bem.
Quando ficou só, Bia respirou fundo e mais uma vez percebeu que a continuar com aquela situação, qualquer dia iria deitar tudo a perder. No imediato ligou a Bernardo a explicar o que tinha acontecido e o porquê da chamada dele.
Com este problema de saúde da filha tinham deixado de ser prudentes e a continuarem assim, aquele segredo que era tão deles, iria acabar por ser descoberto. Ele justificou-se dizendo que queria saber do estado de saúde de Janine, mas não pode deixar de lhe dizer que tinha saudades dela e que queria reencontrá-la o mais cedo possível.
Beatriz sentiu-se reconfortada por saber que apesar da distância ele continuava a amá-la, mas pela primeira vez sentiu medo. Possívelmente era a primeira vez que tinha medo na vida dela. Nunca tinha sido dada a medos, mas agora era diferente. Estes momentos de stress que vivia tornavam-na mais vulnerável e sabia que não aguentaria perder o que quer que fosse. Por isso mesmo também não conseguia cortar defenitivamente com Bernardo. Tinha de pelo menos encontrar-se mais uma vez com ele, mas mais que nunca teria de ter muito cuidado.
Sózinha possívelmente não conseguiria tomar a decisão final, mas tinha esperança que ele entenderia e que iria ajudar também a pôr fim aquele segredo que viviam.

Sem comentários: