sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Conforme tinha agendado, Beatriz deslocou-se uma semana a Paris.
Era uma semana particularmente díficil profissionalmente, mas sobretudo porque tinha partido intranquila com a saúde da sua filha mais nova. Tinha-lhe sido detectado um nódulo no seio esquerdo, feito uma biópsia e ainda não sabia dos resultados.
Estava preocupadíssima e todo o optimismo que costumava ter em relação às mais variadas dificuldades, desta vez não existia. Sentia que algo de mau estava para acontecer. Nas poucas horas de lazer, refugiava-se no quarto do hotel e ficava prisioneira de maus pensamentos.
Desta vez não era com ela e sempre que a saúde dos filhos estava em causa não conseguia esconder a intranquilidade. Telefonava diàriamente à hora do jantar e naquela quarta-feira achava que ia ter a resposta que esperava.
Recusou ir com o grupo do costume jantar e como havia uma hora de diferença, esperou impacientemente para ligar para casa. Pelo tom de voz com que atenderam o telefone, percebeu de imediato que as notícias não eram boas. A filha em pranto deu-lhe a notícia que mais temia, tinha um carcinoma e era preciso agir rápidamente.
Queria acalma-la mas as palavras não saíam e àquela distância nem a mão lhe podia dar ou mesmo ajudar a secar as lágrimas. Sentiu o Mundo ruir...falou também com a filha mais velha a pedir ajuda e que ficassem o mais unidas possível até ao seu regresso. Iria antecipar a viagem e sexta à noite já estaria de novo em casa.
Quando desligou o telefone estava gelada e incapaz de pensar em mais nada, a não ser no regresso e nas medidas urgentes a tomar. Sentiu-se infinitamente só...
Telefonou ao companheiro que tinha aproveitado a ausencia profissional dela para ir à Grécia, visitar uma irmã que estava com problemas de saúde e como já estava habituada, sentiu todo o carinho e apoio dele. Também iria tentar alterar o percurso do voo de regresso e se possível ir ter com ela a Paris e regressarem depois juntos no mesmo avião para o Porto.
Já não quis sair para jantar, pediu que lhe servissem um chá no quarto e refugiou-se no silêncio questionando tudo que estava para trás.
Também se lembrou de Bernardo, mas estranhamente não sentiu a emoção do costume. Afinal nunca poderia contar com ele para partilhar fosse o que fosse da sua vida, a não ser momentos a dois. As outras horas, boas ou más, nunca poderiam ser divididas.
Questionou tudo. Aquele amor estranho que viviam não era senão um acto de egoísmo dos dois e por mais afinidades que pudessem ter, a partilha do resto das suas vidas não existia nem nunca poderia existir.
Naquela hora decidiu que tudo tinha de acabar entre eles. Era uma parte obscura que ele ocupava nela e que apesar de ser muito bom, tinha de ter um fim.
Mais que nunca tinha de se concentrar na família e na saúde da filha e isso era a prioridade do momento.
De qualquer forma ia tentar telefonar-lhe para explicar toda a situação e informa-lo das suas decisões. Começava a não ter sentido aquele ligação secreta e todos os riscos que corriam se fossem descobertos teriam um preço demasiado alto.
Como protecção tomou um ansíolitico, deitou-se e deixou que as lágrimas caíssem. O dia seguinte seria árduo e tinha de tentar descansar.

MIA
21 Novº2008

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