terça-feira, 11 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Hoje acordou adoentada. Estava com febre e aquela maldita constipação teimava em continuar.
Levantou a persiana e apesar do sol lá fora sentiu um arrepio de frio. Ligou a televisão, viu as notícias e a metereologia previa temperaturas baixíssimas. Afinal tinha feito bem ficar em casa, pois com aquele tempo, de certeza que agravaria o seu estado.
Esperou pelas nove horas e telefonou à secretária para desmarcar toda a agenda daquele dia. Preparou um pequeno almoço frugal mas bem quente e voltou a deitar-se. O corpo pedia-lhe calor e descanso.
Era raríssimo estar doente e quando acontecia ficava sempre muito vulnerável. Precisava de mais atenção, mais carinho, mais tudo, só que os outros nem sempre estavam disponíveis para isso e então ela sentia-se a pessoa mais só do mundo e ficava triste.
Por instantes mergulhou em pensamentos e deixou-se dormir de novo. Quando acordou já a manhã ia alta e apesar do íncomodo continuar decidiu levantar-se. Não queria permanecer no quarto e transferiu-se de armas e bagagens para a sala, afinal não estaria tão confortável no sofá, mas assim não se sentia prisioneira. Odiava sentir-se enjaulada, ainda por cima por obrigação.
Levou os telefones atrás dela e sempre que os olhava dava-lhe uma vontade enorme de se pôr a falar com toda a gente...aquela solidão contrariada tornava-a mentalmente irrequieta.
Os filhos foram telefonando para ver como estava, o seu amor também, mas...aquela voz que naquele momento gostaria também de ouvir estava ausente e nem sequer sabia onde.
Conscientemente pôs-se a questionar toda a sua vida.
Era filha única de Pais muito queridos e que a saudade não esquecia, tinha tido uma infância e juventude em liberdade e felizes, sido boa aluna, boa atleta, uma capacidade pouco comum para fazer novos conhecimentos, enfim, não encontrava traumas para trás que pudesse questionar.
Tinha uma dúvida ou certeza até, para o facto de ter sido filha única. Apesar de gostar de momentos de solidão, sempre teve necessidade de criar cenários onde os outros se sentissem bem sem disputas, discussões, guerras desnecessárias...e aí tornou-se lider das brincadeiras, das ideias e até da inconsciência das coisas mais graves. Nada para ela tinha a mesma gravidade que para os outros e sempre dava a volta por cima e com finais felizes. Quando para os outros havia escuridão ela encontrava sempre estrelas a brilhar.
Já tantos anos tinham passado e continuava sempre com a mesma luz dentro dela.
Sempre sentiu que era ligeiramente diferente dos outros, pelo menos em pensamento. E realmente era diferente, tanto para o bem como para o mal.
Mais teórica que prática, um poder de análise fora de comum, um humor a raiar o desconserto, um poder de comunicação enorme, uma sensibilidade controlada mas à flor da pele e como dizia um querido amigo, um iman especial que atraía desmesuradamente quem privava com ela.
Entregava-se a tudo que se propunha de corpo inteiro. Intensa em tudo que fazia e sentia.
Essa intensidade pelas coisas tinham-na levado a encontros e desencontros mais ou menos felizes. Algumas paixões inconsequentes, dois casamentos falhados, três filhos lindos, uma profissão que adorava, mas continuava sempre a sentir falta de alguma coisa e essa procura que não buscava continuava no tempo.
O que buscava afinal? continuava sem resposta para isto.
O segredo da paixão que vivia nesta altura era fruto dessa procura sem fim. Certamente só na morte encontraria resposta.
Racionalmente achava que devia por fim a esta situação, mas por outro lado, sentia que o risco que corria a fazia viver mais e melhor. Não queria pensar nas consequências para não se magoar,
mas tinha a certeza que magoaria muito mais gente se tudo fosse descoberto.
Até podia ser que estes momentos forçados de reflexão a fizessem pôr um ponto final a tudo.
Mais uma vez faria um corte na sua vida, mas como sempre o motivo tinha uma justificação.
Teria de abdicar da exaltação dos momentos, de viver a vida em constante adrenalina e serenamente ficar com ela e com os dela. Só ainda não sabia se seria capaz de o fazer sózinha...

MIA
11 Novº2008

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