domingo, 30 de novembro de 2008

O meu amor, tem um jeito....

Depois de alguns avanços e recuos, Bia e Bernardo voltaram a encontrar-se.
Bia fez questão que o encontro não fosse naquele recanto onde tinham passado momentos inesquecíveis e por isso, escolheram um hotel discreto. Não queria ouvir de novo o música de fundo que tinham escolhido para o seu filme, queria uma cena diferente onde o ambiente não pudesse interferir com os sentimentos.
Entraram como um casal normal e apesar do conforto do quarto, sentiram alguma frieza no ambiente. Nada era familiar e mesmo entre eles havia qualquer coisa de diferente. Mesmo assim entregaram-se como se fosse a última vez e podia mesmo dizer-se que toda a magia a que estavam habituados se tinha transformado numa realidade que lhes dava mais consciência do que viviam.
Desta vez não havia risos de contentamento, mas a entrega era tão grande que sentiram que a profundidade daquele amor era muito maior do que jamais tinham esperado. E se ela já tinha revelado algum receio por isso, Bernardo, pela primeira vez confessou que tinha medo do que estava a acontecer. Ela tinha-se tornado numa obcessão para ele e ele não estava a conseguir gerir os sentimentos, acreditava até, que em casa já tinham reparado que alguma coisa de diferente se passava com ele.
Ouviram-se com muita atenção e as mãos, que até aí, eram de uma constante procura, mantinham-s agarradas de tal forma, que só a dor os fazia de vez em quando aliviar a pressão.
De quando em quando beijavam-se de novo, mas a doçura melosa dos beijos que costumavam trocar e os levava de novo a amar sem parar, desta vez revelavam alguma agressividade. Sabiam que tudo tinha de acabar e aquela que possívelmente seria a última vez deles, apesar de não ser violenta, revelava alguma raiva.
De comum acordo acharam por bem acabar o romance. Prometeram guardar o carinho que sentiam, toda a cumplicidade que tinham vivido e tal como não tinham procurado para se encontrar, teriam de arranjar a magia para se fazerem desaparecer da vida um do outro. Quem sabe noutra vidas se reencontrariam e em circunstancias diferentes, poderiam viver esse amor tranquilamente.
Prometeram serenidade na separação e que não voltariam a procurar-se, só não sabiam se iriam cumprir o establecido, mas mesmo assim continuaram a prometer.
À medida que Bia se arranjava, Bernardo que tinha deixado de fumar há alguns anos, pediu-lhe um cigarro e por entre espirais de fumo, olhava-a com melancolia. A tranquilidade aparente dela tornava-o inseguro e quanto mais a mirava, mais lhe apetecia ficar com ela. Não se conteve e mais uma vez tomou-a nos braços e amou-a de novo. Tudo parecia um recomeço, mas os corpos tranformados num só quando por fim se largaram, tiveram a certeza de que era a última vez. Não podiam continuar aquele romance que mais parecia de filme e o fim mais bonito que encontraram foi trautearem a sua música e dançar com leveza como de uma valsa se tratasse.
Por fim desceram, tomaram uma bebida no bar e na hora da despedida um último beijo de amor.
Não conseguiram deixar de se olhar pela última vez e acenaram eternizando o momento.
Desta vez, enquanto fazia a viajem de regresso a casa, Beatriz sentiu-se amputada. A realidade era demasiado dolorosa mas tinha de ser, a vida tinha de continuar e ela não podia pensar só nas suas dores.
Em casa continuavam à sua espera e todos dependiam da sua aparente tranquilidade. Tinha de entregar-se por completo à família e continuar de corpo inteiro centrada no problema de saúde da sua filha.

MIA
30 Novº2008

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